ISSN 2359-5191

24/11/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 21 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Arte teatral supera barreiras sociais e culturais

São Paulo (AUN - USP) - Assistir teatro não é apenas uma recepção passiva de um produto cultural por parte do espectador. Esse tipo de arte, além de ajudar no desenvolvimento do ser humano, também contribui para a inclusão social e para a ruptura de barreiras culturais. Essa é a opinião que Flávio Wolf de Aguiar, professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP – FFLCH e pós-graduado em dramaturgia, formou a partir de sua experiência como orientador teórico do Projeto Formação de Público, desenvolvido pela Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo entre os anos de 2001 a 2004.

Esse projeto foi apresentado e discutido durante a palestra “O Teatro na Fronteira da Periferia”, a qual fez parte de um seminário internacional intitulado de “Fronteiras Culturais: o Espaço Urbano”, realizado recentemente pela FFLCH. A idéia básica do Formação de Público era promover a ida o teatro a estudantes do ensino médio das escolas municipais, cuja maioria está localizada em bairros menos assistidos da cidade. O público alvo também foi os estudantes dos Ciejas – Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos, o antigo supletivo.

O professor Flávio ressalta, porém, que essa não era uma idéia assistencial e sim formativa. “O objetivo não era dar teatro para quem não tem, não era satisfazer uma demanda reprimida”, afirma. Assim procurou-se gerar uma demanda para o teatro e provocar um enraizamento.

A idéia inicial do projeto foi de Celso Frateschi, secretário Municipal da Cultura, na época, e de Gianni Ratto, diretor de teatro e cenógrafo. A equipe, composta por um curador, por orientadores e monitores percebeu, logo no início, que para provocar esse enraizamento, era necessário fazer um trabalho em cima das peças e do teatro em si. Caso contrário, a ida ao teatro seria considerada um simples passeio. Assim, as pessoas entraram em contato com a arte teatral não apenas assistindo aos espetáculos, mas subsidiadas por informações e análises sobre as peças através dos monitores, que iam às escolas para discutir com os alunos e professores antes das apresentações e, depois, conduziam debates entre o público e os atores.

Esse trabalho de reflexão crítica e criativa, não só sobre os temas, mas também sobre a cenografia, os figurinos, as músicas, a iluminação, os sons, motivava os professores a trabalharem o teatro em sala de aula através de uma série de atividades: pesquisas, maquetes, artes plásticas, exposições, esculturas. Tudo isso relacionado às peças que foram assistidas. Algumas escolas, inclusive, chegaram a montar grupos teatrais.

Flávio defende que a ida ao teatro pode despertar interesses por temas correlatos presentes em exposições, no cinema, em concertos. Desse modo, o teatro é como uma janela aberta para o mundo. Além disso, a importância da arte teatral está na inclusão social, cultural e na lição de cidadania que ela propicia. Para ele, só o fato de ir ao teatro já é inclusão: “As pessoas acham que o teatro é só para quem tem dinheiro e carro. Mas não é. Assistir teatro é um direito do cidadão, ser público é um patrimônio coletivo”, diz. Ele afirma que o projeto também ajudou algumas pessoas a descobrirem suas vocações para essa arte.

No primeiro ano do projeto, em 2001, 113 escolas foram atendidas, com um público total de 34.923. Em 2002, 250 escolas e 123.792 alunos participaram. Em 2003 foram 90 escolas e 136.085 estudantes. Já em 2004, o programa foi desenvolvido nos Centros Educacionais Unificados. Flávio ressalta que existem projetos semelhantes na Europa e nos EUA, porém, são dirigidos para comunidades muito estreitas e delimitadas, por exemplo, para imigrantes ou árabes. “O nosso, foi para a cidade de São Paulo”, defende.

Segundo o professor, a recepção do público foi muito boa. Prova disso é que muitos alunos que assistiam às peças nos dias de semana voltavam com seus amigos e familiares para assisti-las novamente aos sábados e domingos. Ele lamenta a inexistência de uma pesquisa sistemática que mostre até que ponto as escolas participantes continuam a desenvolver a temática do teatro atualmente. Flávio, inclusive, planeja escrever um livro sobre o assunto e conseguir junto à Universidade de São Paulo, uma verba de pesquisa para voltar em alguns desses lugares e ver os resultados que permaneceram.

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