ISSN 2359-5191

28/03/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 02 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Acampados do MST sofreriam por distanciamento

São Paulo (AUN - USP) - Os acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) foram apresentados sob uma nova ótica por uma mestre em antropologia, formada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da USP. A Professora Maria Cecília Turatti deu uma ênfase sócio-cultural à analise dessas instâncias, chegando à conclusão de que os acampamentos mais distantes dos centros de organização manteriam vínculos muito mais fragilizados com as lideranças.

Passando por vezes semanas junto dos acampados, convivendo dia e noite com eles, tornando-se amiga tanto de acampados como de líderes e, ao mesmo tempo, mantendo a isenção necessária para a análise científica do fenômeno, a professora chegou a um grande detalhamento da complexidade das relações de poder e dependência existentes entre acampados e lideranças do movimento. Tendo compartilhado das condições precárias de vida encontradas em parte dos acampamentos, principalmente naqueles mais afastados do centro de organização localizado no Pontal de Paranapanema, constatou que nem sempre há nos acampados um sentimento de engajamento na causa. Ao mesmo tempo em que têm o sonho de uma exploração coletiva da terra, de finalmente obter um vínculo com ela, muitas vezes esses sem terras não se dão conta de sua excessiva dependência e conseqüente subordinação ao grande movimento.

De acordo com Turatti, nesses acampamentos ocorre também um distanciamento político entre acampados e lideranças. Isso acaba causando uma deficiência no desenvolvimento da luta para se assentar, de modo que as relações de poder internas ao acampamento também são afetadas. E é dessa forma que se produzem os insucessos do MST.

Em sua tese Os Filhos da Lona Preta - notas antropológicas sobre sociabilidade e poder em acampamentos do MST no Estado de São Paulo, a professora explica que nas localidades mais próximas do Pontal - e em outras regiões em que o MST apresenta significativa importância - o sentimento de pertencimento é constantemente transmitido por meio de um projeto de Educação para a Terra e por discussões políticas freqüentes. Nos acampamentos afastados, pela falta de tais projetos, ocorre a dependência, já que seus habitantes não vêem saídas para a situação difícil em que vivem. Voltar para a cidade ou procurar outras terras não se apresentam para eles como opções, pois significariam abandonar a terra que tanto lutaram para conquistar.

A professora ainda justifica que esse relativo isolamento é causado não pela ineficiência dos líderes do MST ou do movimento como um todo, mas pelos entraves ideologicamente impostos a ele. Isso se deve ao fato de que a ampliação do universo de alcance dos ideais e da educação propagados pelo MST credenciaria o movimento a defender com mais veemência os ideais de justiça e igualdade que apregoa, obtendo mais força no cenário nacional. Na visão de Turatti, as elites agrárias e políticas contrárias ao movimento, cultoras de tais entraves, seriam as responsáveis, portanto, pelo agravamento da situação agrária e social, já calamitosa, do país.

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