Um tema importante do romance de João Guimarães Rosa é a tentativa de se realizar um gesto fundador que erradique os conflitos do sertão. Mediante uma análise do empreendimento fáustico que, desde Adão até o herói goetheano, apresenta um caráter positivo, pressupondo um sujeito pleno, dotado de vontade, consciência, proporemos que o fator principal que move Riobaldo na realização do pacto é o indeterminismo. Seguindo essa linha, abordaremos a cisão do mito de Fausto na passagem do século 19 para o século 20, que substitui a conquista de uma obra civilizadora e progressista pelo ceticismo e a ironia. Nesse sentido, o gesto efetuado nas Veredas-Mortas, assumindo como uma de suas vertentes a extinção da barbárie jagunça, encontra após derrota dos Judas a contraparte do anti-belicismo. O velho fazendeiro Riobaldo, senhor de terras, tendo por empregados seus antigos jagunços, vive em tenso equilíbrio, ameaçado a cada instante por uma nova irrupção da maldade. Por sinal, todos os outros chefes jagunços, Medeiro Vaz, Joca Ramiro, Zé Bebelo não conseguem se apoiar em nenhum princípio fundador que potencialize os objetivos do pacto social.
O objetivo deste texto é o de estudar a novela "Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)" de João Guimarães Rosa, considerando a teoria das funções da linguagem de Roman Jakobson como um suporte teórico em condições de dar a ver a organização interna da obra, sua possível operacionalização, e os efeitos de sentido por ela produzidos.
Este artigo pretende desenvolver uma análise comparativa entre a passagem em que o personagem Gavião-Cujo transmite aos jagunços a notícia da morte de Joca Ramiro em Grande Sertão: veredas e a música “Notícia do Norte” do grupo paulista Nhambuzim. As relações intersemióticas devem ser exploradas de modo a proporcionar novas possibilidades de estudo, trabalho e interpretação. Para tanto, foi utilizada a semiótica como ferramenta teórica a partir da perspectiva de autores como Hildo Honório Couto e Lúcia Santaella, além de outros que nos ajudaram no aspecto musical, como Murray Schafer e James Russel. Ao analisarmos o processo intersemiótico, bem como ao avaliarmos até que ponto a música se assemelha ao romance, chegamos à conclusão de que esses sistemas são complementares e ganham novas dimensões quando contrapostos.
A sedução, no conto “Luas de mel”, manifesta-se, num primeiro momento, entre
enunciador e enunciatário a partir do discurso em primeira pessoa, que cria um efeito de
aproximação, deixando fluir uma relação de cumplicidade entre eles. Concretiza-se, mais
tarde, no nível discursivo, nas referências delicadas e reticentes do enunciador à sua mulher. Tais expressões de carinho velado vão crescendo em intimidade à medida que o fazendeiro
deixa-se envolver pelo clima que instaurado na fazenda com os preparativos para o casamento.
Pretende-se, portanto, analisar os níveis de sedução que se revelam no conto, tendo como
apoio o modelo semiótico greimasiano.
Com base nos apontamentos feitos por Luiz Tatit nas análises realizadas em seu livro Semiótica à luz de Guimarães Rosa, e também em outros textos seus, nosso intuito é o de examinar e descrever a configuração tensiva que subjaz ao conto “A menina de lá”. Interessa explicitar as operações sintáxicas que estão na base da estruturação narrativa e discursiva da trama e que, por isso mesmo, respondem pela sua força de convocação sensível-inteligível. Ao que nos parece, por meio da construção das personagens dessa narrativa, Rosa traz valiosas contribuições acerca das condições que regulam a interação entre os sujeitos.
O presente estudo tem como objetivo verificar como a morte, considerada um momento limítrofe para a existência humana no contexto ocidental, se apresenta sob uma espécie de encantamento na narrativa rosiana. Para compreender as tensões que perpassam o campo de presença do sujeito que se depara com a finitude, apresentamos uma análise a partir dos estudos da semiótica tensiva de Zilberberg, que concilia muitas das contribuições da fenomenologia de Merleau-Ponty junto com os postulados de uma semiótica de cunho estruturalista de Greimas. Acreditamos que é a partir dos conteúdos sensíveis que podemos compreender melhor os contos rosianos.
Na obra do autor mineiro João Guimarães Rosa, o significante é elevado ao máximo de seu uso. Há
uma espécie de magia, canto e encanto na sua escritura. O que propomos, neste artigo, é um estudo do conto “A menina de lá”, que integra a obra Primeiras Estórias (1962), com a intenção de mostrar a predominância do caráter icônico e poético na linguagem do conto. Para tanto, nos valemos do conceito de linguagem icônica de Charles Sanders Peirce e do de função poética do lingüista russo Roman Jakobson, além das idéias de Vilém Flusser sobre as chamadas línguas santas.
Este trabalho busca evidenciar, em contraponto, a figurativização do discurso metapoético na poesia de Manoel de Barros e na ficção de Guimarães Rosa. Para tanto, analisamos o poema “O fotógrafo” e o conto “Cara-de-Bronze”. Utilizamos estudos que versam sobre o processo de composição poética e a teoria semiótica greimasiana.
Utilizando-se da teoria da Significação, como objeto primeiro da Semiótica, este artigo tem como finalidade discutir a representação da morte, em “Campo Geral”, de Rosa, em diálogo a escultura La Pietà, de Buonarroti, a fim de provocar o processamento da leitura literária. Como recurso metodológico trabalhou-se a pesquisa bibliográfica, de cunho analítico. O signo morte foi re-visitado com base na definição de transcendental, como um rito de passagem. Apreendeu-se, nos resultados, os percursos gerativos de sentido, através das imagens mental e plástica da morte, que, através de um ground, se reconstrói nos dois recursos midiáticos. Concluímos que é possível apreender a relação entre o constructo do signo morte na narrativa literária Campo Geral e na escultura La Pietà, considerando que o texto literário, pelas características que lhe são peculiares também sugere imagens, figuras, formas, paralelos, confrontos, correspondência com a escultura, tornando-se possível estabelecer construção de sentidos, leitura crítica, ao colocá-las dentro de uma história ou de um contexto. O plano do conteúdo sintetizado em ambos os textos, símbolo do signo disfórico morte, tem origem no imaginário, pois os textos são fictícios, representação.
Este artigo postula discutir, sob o prisma da semiótica, o mundo maravilhoso do conto infantil, por meio do conto Chapeuzinho Vermelho que, por muitas razões, foi retomado tantas vezes, a serviço de outras enunciações. O texto procura depreender as relações com suas variantes intertextuais, pondo em prática um olhar dialógico sobre a linguagem de Guimarães Rosa, em Fita-Verde no Cabelo.
Este artigo coteja duas visões de construção do sentido, uma formulada de maneira científi ca pela semiótica de Algirdas Julien Greimas e outra elaborada em termos literários pela pena de João Guimarães Rosa. A partir de uma análise do conto ?Nenhum, nenhuma?, do escritor brasileiro, o autor desvenda as oscilações tensivas (de intensidade e extensidade) que regulam a trama narrativa da história, mostrando que os diferentes graus de tonicidade e/ou velocidade dos afetos revelados pelas personagens confi guram com maior precisão as causas de seus encontros ou separações. O próprio enunciador manifesta sua fi delidade a uma das personagens do conto por meio de ajustes tensivos (ambos cultivam a duração, a longevidade) que asseguram entre eles uma identidade profunda. Esse plano de interação difi cilmente seria reconhecido por um enfoque exclusivamente narrativo e discursivo.
Este artigo é excerto de dissertação sobre a tradução intersemiótica de cinco narrativas do livro Primeiras Estórias de Guimarães Rosa para o filme Outras Estórias de Pedro Bial. O texto perpassa a transmutação do cenário e das personagens rosianas para a linguagem cinematográfica com suas especificidades e recursos, sobretudo, pelo contexto visual dialogando, por meio da imaginação e da imagem, com a obra do escritor mineiro que desde a década de 1960 é fonte para roteiros de teatro, cinema, documentários e minisséries de televisão.