O artigo discute, a partir de três obras literárias - Os sertões, de Euclides da Cunha, Tropas e boiadas, de Hugo de Carvalho Ramos e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa - a identidade do sertanejo esboçada por seus autores. Aponta para essas construções identitárias inseridas nas preocupações dos intelectuais/escritores referidas nos tempos históricos da escritura das obras. Assim, para Euclides da Cunha, revelar a existência do sertão e do sertanejo para o litoral/civilização, gerava a grande indagação sobre a identidade nacional já que a nação, que deixava para trás o Império e se lançava numa possibilidade de transformação com a República, ainda não havia conseguido identificar de que matéria era feita a ‘alma nacional’. Já o escritor goiano Carvalho Ramos buscou resgatar elementos da cultura ligada à pecuária de seu estado no momento em que divulgar Goiás na capital federal significava tentar inserir o estado no concerto da nação. Guimarães Rosa, por seu turno, vivenciando em meados do século XX a dominância do discurso desenvolvimentista da era JK, chama a atenção do Brasil e do mundo para a sobrevivência da cultura sertaneja, ao mesmo tempo indicando seu grau de universalidade.
O projeto literário de Euclides da Cunha consiste no consórcio entre ciência e arte, como ele próprio revelou a José Veríssimo. Essa união pressupõe vigor de imaginação poética estruturado sob um rigor crítico científico – como aquelas partículas quânticas que mutuamente se implicam, observadas por Ilya Prigogine[1]. Por isso, sua obra poética se assemelha a um ensaio sócio-histórico. Esse drama fáustico se expressa no Grande sertãode Guimarães Rosa na luta civilizatória de Zé Bebelo contra a primitiva dicção poética dos demais chefes jagunços, liderados por Joca Ramiro e Hermógenes. O canto poético de Riobaldo é eivado de reflexões filosóficas de rigor científico, como a própria disposição crítica de sua narração catártica, que visa curar sua dor de amor pela morte de Diadorim. Assim, pelo método da poética comparada, com embasamento crítico-literário e científico-filosófico, pretende-se demonstrar como Euclides cunha o consórcio entre ciência e arte e sua herança na obra de Rosa.
Desenvolvimento de um estudo comparativo entre três obras de literatura brasileira cujo tema comum é o sertão: Grande sertão: veredas (sertão das águas), de Guimarães Rosa; Os sertões (sertão semiárido), de Euclides da Cunha; Vidas secas (a aridez das grandes secas), de Graciliano Ramos. Nosso objetivo é focalizar as analogias, as convergências e as diferenças entre essas obras, que despontam no cenário literário brasileiro.
Este ensaio visa comentar, por um lado, as aproximações e as distâncias entre Guimarães Rosa, Euclides da Cunha e José de Alencar no que diz respeito à caracterização da figura do sertanejo e, por outro lado, mostrar de que forma Pedro Orósio, o protagonista da novela “O Recado do Morro”, corporiza as reflexões que Guimarães Rosa anotou sobre a natureza do sertanejo-vaqueiro, na reportagem jornalística “Pé-duro, Chapéu de couro”.
Este artigo trata-se de um exercício de aproximação entre duas obras da literatura brasileira – Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa – e as fotografias que Pierre Verger e Marcel Gautherot registraram em viagens pelo interior do Brasil nas décadas de 1940 e 1950. O objetivo consiste em elaborar uma interpretação histórica sobre formas escritas e visuais acerca dos sertões brasileiros.
Neste estudo, propõe-se uma discussão sobre a Literatura, enquanto disciplina, sua aplicabilidade nas práticas pedagógicas de professores em sala de aula de Ensino Médio. A título de ilustração, recorre-se aos recortes das leituras das obras: ‘Os sertões’, de Euclides da Cunha; ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos; e ‘Grande Sertão: veredas’, de João Guimarães Rosa, uma vez que nestes textos, através do “poder da palavra” (GONÇALVES FILHO, 1988/2000), os autores evocam realidades que retratam o cenário de um Brasil marcado pela plurinealidade de formas de linguagem, comportamentos, valores e expressões dos sujeitos frente às adversidades de seu meio. Assim, a literatura possibilita o desenvolvimento da auto-reflexão, a criticidade; o questionamento e elucidação de princípios e regras sociais.
Este artigo objetiva discutir o percurso do modo como o sertanejo é apresentado em obras literárias brasileiras a partir do Romantismo, primeiro estilo em que aparece como personagem, até a intensa liberdade das Tendências Contemporâneas. Fundamentado em discussões sobre sertanismo e regionalismo com Albuquerque Júnior (2011), Almeida (1999), Castro (1984) e Freyre (1976), este trabalho se direciona para um olhar de como o sertão/sertanejo se insere numa “caminho” trilhado dentro da produção literária no trajeto das épocas mencionadas. Deste modo, com o estudo empreendido, entende-se que o sertanejo mítico e depois realista dos oitocentos, modifica-se no forte lutador diante da seca e das injustiças sociais no século XX, utilizando-se da sua força, resistência e bom-humor que lhe são característicos, encarando as árduas sagas com seus únicos recursos, os impalpáveis.
O presente estudo investiga o símbolo do rio e das margens nos textos "A terceira margem do rio", de Guimarães Rosa e "Judas/Asvero", de Euclides da Cunha. Revela tanto o lado intimista e metafísico do primeiro, quanto o aspecto conflituoso e social do segundo. Aponta afinidades estilísticas entre os dois grandes artistas da prosa brasileira e seu relacionamento com os estratagemas retóricos da literatura universal.
Este artigo aborda a influência de Diadorim sobre Riobaldo em Grande
Sertão: Veredas, pela perspectiva filosófica do sublime e da coragem (Schiller e outros), baseando-se em concepções de Walter Benjamin e dialogando com a crítica de Willi Bolle. O ensaio identifica, na obra-prima de Guimarães Rosa, uma relação importante entre o sublime, associado a Diadorim a partir de elementos levantados por Benjamin, como a figura guia, o amor provençal e o justo hermafrodita, e a coragem demonstrada por Riobaldo. Finalmente, contribui para a avaliação de Bolle quanto ao caráter dialético e verossímil do texto literário no que concerne à coragem desse personagem, em comparação com a representação do sertanejo em Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Propomos discutir como Os sertões foi incorporado, pela crítica, como obra de literatura e como, posteriormente, o romance Grande sertão: veredas passou a ser lido como ensaio. Para tanto, examina-se, de um lado, em vários estudos, como o primeiro foi consagrado como obra compósita, pertencendo, ao mesmo tempo, ao campo da literatura, da sociologia e da ciência, o que se tornou moeda corrente e cânone quase inquestionável, sobrevivendo por mais de um século. De outro lado, investiga-se como a narrativa rosiana passou a ser vista, por uma determinada vertente da crítica, como ensaio ou estudo das relações de poder no Brasil. É essa indistinção, paradoxal, entre sociologia e literatura, ciência e ficção que nos propomos investigar e problematizar, buscando compreender tal embaralhamento de gêneros.