Nosso objetivo é investigar a temática da água e do tempo nos contos A terceira margem do rio (1962), de João Guimarães Rosa, e Nas águas do tempo (1994), do autor Mia Couto. As duas estórias dialogam sobre as questões da vida e da morte a partir da representação da travessia pelo rio, e sobre a experiência diante o tempo. Para compreendermos a presença da água como um elemento material, que revela a substância e o destino dos personagens, utilizaremos o estudo de Gaston Bachelard (1997), A água e os sonhos. A água representa a renovação da ancestralidade, fazendo referência aos tempos sagrado e profano. O aporte teórico para a compreensão do tempo sagrado e profano será Mircea Eliade (2008), que define a experiência do homem religioso como mysterirum tremendum e mysterium fascinans, duas experiências que estão representadas na vivência dos personagens e os conduzem a outra possibilidade de real. O pai e o avô, respectivamente personagens de Guimarães Rosa e Mia Couto, ao realizarem a travessia pelas águas desestabilizam as margens conhecidas e promovem uma reflexão sobre o ser e o estar no mundo. DOI: https://doi.org/10.47295/mren.v10i6.3438
A partir de recortes das obras Tratado descriptivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa; Terra sonâmbula, de Mia Couto e "Cara-de-Bronze", de Guimarães Rosa, põe-se em prática o mapeamento de territórios que se situam para além daqueles cartografados pela literatura do exílio, tal como sugere Edward Said em seu ensaio reflexões sobre o exílio.
Com base no ideal de cultura de uma coletividade é possível a identificação do sujeito com o local. O local, entendido, aqui, como região e/ou espaço de pertencimento de uma sociedade a uma esfera comum que envolve a integralização de seus membros. A partir dessa premissa, intenta-se investigar nas manifestações literárias de Brasil e Moçambique as marcas culturais que deflagram o local nas regiões dos dois países. Para tanto, o corpus investigativo debruça-se sobre a seguinte questão: Como se dá a representação humana e da terra nas tradições localizadas trazidas pela ficção? Procurando explorar tal objetivo, delimitou-se dois contos da coletânea de contos Primeiras Estórias (1967), de Guimarães Rosa e outros dois da coletânea O fio das missangas (2009), de Mia Couto a fim de estabelecer um elo entre o local brasileiro e o local moçambicano. A pesquisa possui caráter bibliográfico atrelando os referenciais teóricos aos textos ficcionais, com enfoque literário-sociológico e histórico.
Considerações sobre a obra de Guimarães Rosa e Mia Couto, a partir, especialmente, do conto “Nas águas do tempo”, do escritor moçambicano. Mais que explicitar sua reverência e seu débito intelectual com a obra de Guimarães Rosa, Mia Couto coloca-se na condição de quem recebe dele a herança literária e responde a ela com a singeleza dos meninos sem camisa, acenando seus panos de
improviso na margem do rio e da palavra. Entendendo desta forma, “Nas águas do tempo” não é confissão de parentesco, mas proclamação testamentária de linhagem.
Neste trabalho, estudaremos como se dá o processo de silenciamento do sujeito feminino a partir da análise dos contos “A benfazeja”, de Guimarães Rosa, e “Rosalinda, a nenhuma”, de Mia Couto. O sujeito feminino representado pelas personagens Mula-Marmela, na narrativa roseana, e Rosalinda, no conto de Mia Couto, se encontra subjugado à violência física e simbólica, seja por parte do grupo a que pertence, seja no interior do casamento. Nesse sentido, exploraremos como os narradores trabalham a questão da violência e o distanciamento que o grupo estabelece com as personagens. Focaremos nos discursos acionados como subterfúgio para os grupos transformarem tanto Mula-Marmela e Rosalinda em bodes expiatórios. Visualizando essas estratégias, defenderemos que os grupos se reafirmam como coletividade ao localizarem dentro da comunidade sujeitos vulneráveis para onde canalizarão a violência.
Esta dissertação tem como objetivo o estudo comparado das personagens infantis em Mia Couto (Moçambique) e Guimarães Rosa (Brasil). Os textos dos autores são tomados de um ponto de vista supranacional, partindo do fato de que os sistemas literários dos dois países se integram em um macrossistema de literaturas de língua portuguesa. Focalizamos a infância como tema estruturador das seguintes narrativas: "As margens da alegria" (Rosa, 1969), "A menina de lá" (Rosa, 1969), "Campo geral" (Rosa, 1984), "Nas águas do tempo" (Couto, 1996), "O poente da bandeira" (Couto, 1996) e Terra sonâmbula (Couto, 1995). Nesses textos, a infância é abordada como um tempo privilegiado de aprendizagem do real. O relacionamento da criança com o mundo se dá de modo diverso nas culturas brasileira e moçambicana, o que determina diferenciações na construção das personagens. Em ambos os autores, a personagem infantil é o aprendiz por excelência, para quem as descobertas do mundo e da palavra são essencialmente lúdicas. Tal ludicidade aproxima a criança do poeta que, no seu fazer artístico, desconstrói a linguagem e recria-a de outra forma, conferindo-lhe significações sempre novas.
FFLCH / Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
Realiza-se neste trabalho um estudo comparado de dois contos pertencentes ao macrossistema das literaturas de língua portuguesa: "As margens da Alegria", do livro de contos Primeiras Estórias, do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, e "O viajante clandestino", do livro Cronicando, do escritor moçambicano Mia Couto, utilizando como suporte teórico o comparatismo de solidariedade teorizado por Benjamin Abdala Junior, a partir da conceituação de sistema literário formulado por Antonio Candido. A dissertação focaliza os contos buscando articulação entre eles do ponto de vista temático e estrutural, enfatizando o narrador e a linguagem, e detectando em sua construção narrativa a presença do imaginário infantil. Inicialmente, analisamos os contos em suas especificidades e depois estabelecemos confronto entre ambos para detectar similitudes e diferenças entre os autores na construção de suas narrativas, buscando sempre a correlação com o conjunto da obra de cada autor.
Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
Este trabalho tece uma comparação entre as obras de João Guimarães Rosa e Mia Couto, contemplando as semelhanças e diferenças entre seus projetos estéticos, tendo como fio condutor a tradição oral. Segundo Walter Benjamin, todos os grandes escritores hauriram da tradição oral e, Ángel Rama parece corroborar com isso, quando diz que os escritores da modernidade recorrem a essa vertente para tecerem as suas narrativas. Rosa e Mia se voltam para o passado e seus olhares se cruzam ao recriarem as lendas, mitos, ritos, provérbios e chistes na elaboração de seus textos. É certo que, a tradição oral em suas narrativas não representa os costumes de seus povos na íntegra, uma vez que, na obra de Guimarães Rosa é retratada como algo evanescente e, mesmo na de Mia Couto, que faz parte do cotidiano, ela já aparece fragmentada. Porém, a preocupação maior é com o processo de recriação, pois este acaba nos remetendo à história de seus países, uma vez que as perspectivas dos autores parecem convergir no mesmo ponto: a "modernização" implantada de maneira brusca naquelas sociedades, relegando a uma "terceira margem", grande parte de suas populações. Brasil e Moçambique são países que têm em comum a língua portuguesa, herdada do colonizador que foi o mesmo. No entanto, são portadores de culturas distintas, pois, apesar da semelhança entre os elementos que as compõem, os valores são diferentes. As narrativas de João Guimarães Rosa e de Mia Couto não representam a História, mas contam história. Dessa forma, narração, memória e História se entrecruzam de tal maneira, que as fronteiras entre ficção e realidade se tornam muito tênues.
Este estudo propõe um diálogo entre o escritor africano Mia Couto, e o escritor mineiro João
Guimarães Rosa. Serão enfatizadas a oralidade poética e a criação de neologismos nos livros de
contos Estórias abensonhadas, do escritor moçambicano, e Primeiras estórias, do escritor mineiro.
Demonstrarei que as imagens poéticas da nacionalidade constituem respostas, no plano discursivo,
ao desafio de representar as heterogeneidades culturais de cada país. Ofereço ao leitor uma
perspectiva comparada das respectivas obras, em que serão apreciados os contos “A terceira
margem do rio” e “A benfazeja” de Guimarães Rosa, e “Nas águas do tempo”, “O cachimbo de
Felizbento”, e “O cego Estrelinho” de Mia Couto.
Embora Guimarães Rosa nunca tenha lançado nenhum manifesto que abordasse seu projeto estético-literário, a força de sua narrativa influenciou vários escritores (além fronteiras brasileiras). Um deles foi Mia Couto, laureado escritor moçambicano, que produz contos, romances e ensaios tendo (como alguns de seus temas) a reconstrução do espaço moçambicano e uma redefinição identitária de seu povo. Em uma análise comparativa a partir de “Grande sertão: veredas” de Guimarães Rosa e de “Um Outro Pé de Sereia” de Mia Couto (além de outras obras do renomado escritor – “Terra Sonâmbula” e “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”), realiza-se, nesta comunicação, uma identificação da presença de várias características estruturais (sobretudo na sobreposição cronológica – deslocamento temporal para discutir o presente a partir do passado). No entanto, essa característica juntamente a outras (múltipla estrutura de gêneros – tal como uma matrioska; foco narrativo múltiplo; narração polifônica etc.) servem a uma composição estética mais ampla que denomino de hiper-regional; e essa, por sua vez, teria como objetivo principal, além de uma transfiguração mítica do espaço e tempo em um novo eixo cronotópico bakhtiniano, uma reconfiguração dinâmica da identidade dos sujeitos no que Michel Maffesoli denominou de “enraizamento dinâmico”.
O objetivo é propor uma leitura comparada entre os contos “Bicho mau”, de Guimarães Rosa, “O menino que escrevia versos”, de Mia Couto, e “Jocasta”, de Teixeira de Sousa, na tentativa de entender a correlação entre a figura do médico e das enfermidades que aparecem nas tramas e a representação tipológica dos espaços. Conjectura-se que os elementos científicos e míticos presentes nestes contos permitem uma apreensão diferente do espaço: este não seria visto de modo binário, mas de modo integral. Assim, não apenas se coadunam elementos denominados interiores e exteriores, abertos e fechados, rurais e urbanos, mas torna-se possível vislumbrar o não-visível, o imaterial no interior do próprio signo linguístico ou, ainda, nas pequenas variações que advêm da percepção (José Gil, 2005). Na análise comparada, o mundo que se sustenta pela “imaginação explicativa” e o outro, pela “imaginação poética” (cf. Antonio Candido) não apenas geram tensão, mas permitem alcançar outro entendimento ou outra
O cenário preferencial do moçambicano Mia Couto, uma das mais
relevantes vozes da literatura africana de Língua Portuguesa, são as guerras coloniais e
seus traumáticos desdobramentos. Ao mesclar ficção e documentário, as narrativas de
Couto traçam um retrato poético, político e alegórico da Moçambique contemporânea, de
cujo contexto despontam inventários de ruínas, fragmentos, modulações melancólicas de
vozes a reverberar rastros de tradições, ritos e mitos de seu país.
A crescente recepção à obra de Mia Couto, no amplo universo da lusofonia, bem
como no dos Estudos Pós-coloniais, vê-se às voltas com indagações cabais sobre o
trauma da guerra, suas vítimas e a perda de tradições, sob o impacto da globalização: O
que resta atualmente de cultura e tradições orais dilaceradas por guerras e genocídios?
Como elas interagem com a globalização cultural e econômica em rápida circulação em
Moçambique? E o saldo de mortos na guerra de libertação de Moçambique e um outro
tanto durante
Em várias de suas entrevistas ao longo do tempo, Mia Couto tem admitido ser o projeto artístico de Rosa seu expoente estético e poético. Nesse momento, surge a nossa indagação de até que ponto vai o limite da influência. Dessa maneira, nossa proposta de trabalho é estabelecer uma análise comparativista entre o conto A terceira margem do rio,do escritor brasileiro Guimarães Rosa, e Nas águas do tempo, do escritor moçambicano Mia Couto. Em ambos os contos as personagens não são nominadas, sendo o conto de Rosa composto pelo pai, mãe, irmã, irmão e o narrador-personagem; já o de Couto é composto pelo avô, neto e a mãe. Os contextos de produção literária de Guimarães Rosa e Mia Couto são muito diferentes, sendo que Couto toma “emprestado” a possibilidade de (re)criação da língua pela veia poética em prosa, já que, após a independência a República Moçambicana adota a Língua Portuguesa como idioma oficial. Assim, os neologismos e inserções de palavras em banto são tentativas de apropriar-se