Este artigo mostra como Guimarães Rosa, utilizando-se do regional - cangaço - chega ao universal. O cerne desta micronarrativa, cujo tema é a união dos opostos, coloca Matraga em contato com seu "campo divino". A estrutura ternária, muito comum em hagiografias, evidencia a luta em Bem e Mal travada no interior da personagem, que, por sua vez, vivencia três fases: a mítica, a social e a humana. Uma imagem de mandala, presente no texto, auxilia a compreensão do destino da personagem.
O presente trabalho pretende demonstrar a influência de Bakhtin na personagem Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, da obra Sagarana, de Guimarães Rosa. Nessa perspectiva, nota-se que a obra literária de Rosa, nesse conto, dialoga com os estudos de Bakhtin em dois aspectos: na questão do cronotopos da estrada e na questão da carnavalização. Para tanto, revisitam-se os escritos bakhtinianos acerca da obra de Rabelais, assim como as explicações do Círculo a respeito do conceito de cronotopia e carnavalização.
O objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso é apresentar um estudo sobre o conto ―A hora e vez de Augusto Matraga‖, corpus desta pesquisa, que pertence à obra Sagarana (1946), de João Guimarães Rosa, tendo em vista seu caráter de narrativa poética, com enredo que atinge a dimensão do mitopoético, a partir da investigação sobre as etapas do percurso da personagem projetadas no espaço da natureza, marcando transformações vividas que a aproximam das histórias dos santos; além disso, observar outros elementos que compõem a poeticidade da narrativa, como as imagens, símbolos e a linguagem poética empregados. De caráter bibliográfico, esta pesquisa fundamenta-se nos estudos críticos de Bosi (1994), Nogueira (1978; 2000), Perez (1981), Sperber (1976) e Ribeiro (2010) sobre o autor e a obra, e de Lins (1981), sobre o livro Sagarana no contexto da obra de Guimarães Rosa; além disso, os estudos de Campbell (1989) para tratar da figura do herói como santo. A fim de investigar seu caráter de narrativa poética, utilizamos os estudos de Tadié (1994), que retrata as singularidades das categorias da narrativa nesse gênero quanto a personagens, espaço, tempo e mito, cujos símbolos associados abordaram-se a partir do Dicionário de símbolos de J. Chevalier e A. Gueerbrant (1997). A leitura interpretativa do corpus se apresenta a partir de recortes da narrativa que ilustram os objetivos apresentados, assim, pode-se afirmar que o conto se configura como uma narrativa poética uma vez que apresenta uma elaboração da linguagem que a aproxima da poesia, no que diz respeito ao ritmo, sonoridade e expressividade, além de elaboração poética das categorias narrativas, como a representação do espaço e do tempo míticos e o enredo simbólico que convergem para a construção do percurso mítico dos santos, transposto para o sertão mineiro, na figura de Augusto Matraga.
Este trabalho tem como objetivo fazer uma leitura de “A hora e vez de Augusto Matraga”, uma novela de Sagarana (1983) de João Guimarães Rosa, assim como, por conseguinte, analisar a recepção dessa novela com base em três textos, a saber: Rolim (2005), Sousa (2014) e Oliveira (2015). Ao tomar como base a ideia de Ricoeur (2013), sobre o mundo do texto, bem como a de que o texto literário seja de natureza discursiva, concretizando-se como um evento; a ideia de Jauß (1994a/1994b) de que o texto literário não surge num vácuo, pois não é de todo estranho ao seu público, bem como sua ideia de que a experiência estética se divide em dois momentos, um de identificação e outro de crítica (JAUß, 1974); da mesma maneira como consideramos a ideia de Candido (2015) sobre a paradoxal existência do personagem; dentre outros pensamentos. Com base nessas ideias, visamos discutir a recepção da novela que apontamos como nossa base de análise e discussão.
Lido sob a ótica do narrador de focalização zero, "A hora e a vez de Augusto Matraga" apresenta ao leitor o itinerário do protagonista: uma jornada linear de sofrimentos, provações, transformações que conduzem a um destino final que pretende conciliar em harmonia os caminhos e descaminhos do percurso. Atenta a essa perspectiva oferecida pelo narrador, a crítica maior de Guimarães Rosa entende a estória de Nhô Augusto como uma narrativa cristã de ascese em três etapas que, embora definidas de formas diversas, poderia ser pensada em termos de pecado, penitência e redenção. O presente trabalho pretende explorar a dimensão de desvios e rupturas que perturbam esse trajeto linear e nele deixam marcas de ambiguidades e incertezas profundas. Lido dessa forma, o texto apresenta ao leitor, para além de um destino bem definido, o que Jacques Derrida chama de ?destinerrâncias?: um destino que tenta, sem sucesso, negar veredas alternativas capazes, no limite, de comprometer o final feliz da narrativa de ascese.
Tese defendida e a de que a novela a hora e a vez de augusto matraga e uma representacao, em diversos niveis, alegoricos e simbolicos, do processo de formacao do catolicismo brasileiro e de suas possibilidades futuras. No capitulo inicial discutiu-se a metodologia; uma hermeneutica dialetica, que vai levantando questoes, muitas vezes contraditorias, em busca de sinteses mais amplas, em seguida, tentou-se mostrar a poetica rosiana, implicita no texto, os tres capitulos finais foram tentativas de acompanhar, de diversos pontos de vista, o processo do cristianismo nacional. O primeiro, atraves de um dialogo com a teoria do amor como condutor e criador da historia, implicito em diversas tradicoes teologicas, inclusive na do catolicismo popular. O segundo, atraves do conflito entre o catolicismo patriarcal, do guerreiro e do popular. E o terceiro, atraves da relacao com o corpo estabelecido pelo catolicismo em seu processo: o corpo negado, o corpo solidario.
Partindo do estudo da adaptação cinematográfica feita por Roberto Santos do conto "A hora e vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa, este estudo pretende apreender e tornar inteligíveis noções profundas que permeiam a dinâmica existente entre os meios literário e fílmico. Para tanto, serão abordados aspectos referentes às relações entre cinema e mundo, tais como sob que condições se deu o advento do cinematógrafo, o que ele representou para as populações citadinas que o receberam, de que modo a reprodução da imagem em movimento influenciou as outras artes e foi influenciada por elas, etc. Aspectos mais formais do cinema também ganham destaques para que, uma vez estudados, possam nos dar a dimensão de algumas das possibilidades de "manejo técnico" do cineasta numa situação de adaptação de uma obra literária, revelando algumas das dificuldades inerentes a este processo. Questões específicas como as de enquadramento e voz ou foco narrativo central, as estratégias de adaptação do narrador e do estilo e as instâncias de ativação do imaginário no receptor também serão abordadas, a fim de esclarecer certas especificidades da linguagem fílmica. O conto rosiano ganha destaque através de uma análise de sua composição formal e temática, ressaltando questões estilísticas próprias do universo e da poética do autor. Partindo dessa leitura, discutir-se-á com mais propriedade o filme A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos, realizado no ano de 1965. Refletir sobre o que cada uma dessas artes é capaz de provocar no imaginário do fruidor e tentar enxergar para que "lugar" essas produções o transportam é uma das tarefas que este trabalho também se propõe realizar.
Um dos iniciadores do terceiro momento do Modernismo brasileiro, João Guimarães Rosa caracteriza-se como um escritor regionalista que tem como ponto de partida a representação do universo sertanejo iletrado para fazê-lo transcender a uma esfera mitopoética, por meio de uma sincrética prosa poética. Nesse sentido, o seu percurso artístico deu continuidade à exploração dos princípios modernistas e inovou na linguagem e na abordagem da matéria literária. Abordando os contrastes da realidade brasileira a partir da relação de nossa diversidade cultural, o escritor não só propiciou um aprofundamento na exploração da temática regional, como, também, soube gerar uma forma artística adequada, tanto no processo de construção das intrigas quanto no gesto inovador no tratamento lingüístico. Nessa proposta complexa de continuidade e inovação, a utilização da cultura popular e a representação do universo sertanejo iletrado tornaram-se uma das bases a partir da qual o escritor arquitetou o seu projeto literário, contemplando ou integrando elementos das culturas popular e erudita como uma forma possível de adequar a sua arte à diversidade das manifestações culturais do Brasil. Voltado, assim, ao entrelugar da literatura rosiana, busco elucidar a partir da análise dos contos O burrinho pedrês, São Marcos e A hora e vez de Augusto Matraga, da obra Sagarana, como o escritor, entrelaçando elementos místicos e míticos em sua estrutura narrativa, figurativiza na riqueza da cultura popular, a projeção de personagens míticas pertencentes ao universo das convenções literárias, conferindo uma dimensão universal aos contos.
O objetivo deste trabalho é analisar como João Guimarães Rosa reinterpreta o mito clássico de Dionísio em "A hora e vez de Augusto Matraga"; última novela de Sagarana. A estrutura mítica que possui a novela confirma-se não só pela trajetória de queda e ascensão de Matraga que a identifica com o mito clássico grego (além de outras narrativas como a biografia de São Francisco de Assis), como também pelos elementos míticos intrínsecos na narrativa. Nessa reinterpretação mítica também podemos reconhecer, na nova postura de Matraga, um comportamento histórico do Brasil dos anos 30 e 40. Assim, temos, na atualização do mito dionisíaco, a racionalização do mesmo quando podemos enxergar nele uma discussão histórica em torno do Coronelismo vigente da época. Matraga, ao regenerar-se, deixa exemplo de comportamento para cada indivíduo de seu povoado na sua trajetória de renascimento (viés mítico) e, nesse novo comportamento, traz um início de nova ordem para o coronelismo local (viés histórico).
Este artigo apresenta um breve estudo sobre o conto "A hora e vez de Augusto Matraga" de Guimarães Rosa. O objetivo é analisar a linguagem de estilo regionalista, os processos de criação e seu valor gramatical. No conto se busca analisar os modos de linguagem utilizados pelos jagunços, peões e vaqueiros no dia a dia de suas atividades, percebendo que a linguagem é um instrumento de poder utilizados por eles. Serão abordadas questões que dizem respeito à linguagem regional utilizada pelo homem rústico, o camponês do interior de Minas Gerais. Também foram analisadas no conto as palavras novas (neologismos), que acrescentadas para a formação de palavras, tais como a composição e a derivação e outras relações morfo-semântica na criação do léxico regional, que se apresentam na linguagem oral de seus personagens.
Este artigo consiste em evidenciar como a religiosidade permeia, explícita ou implicitamente, a produção literária de Guimarães Rosa, tendo por base os contos “A hora e a vez de Augusto Matraga” (Sagarana), “A menina de lá” (Primeiras estórias); “Bicho mau” (Estas Estórias) e o “pacto” de Riobaldo (Grande sertão: veredas). A análise incide em pontuar certas constantes do imaginário religioso e sua relevância em cada narrativa e também na instauração do questionamento sobre a verdade oculta que rege o universo e na busca do “aprender a viver”, acentuada preocupação do autor mineiro.
“A hora e a vez de Augusto Matraga”, conto que faz parte da coletânea reunida em Sagarana, de Guimarães Rosa, e O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro, são textos que deixam transparecer elementos indicadores da presença de aspectos medievais em sua constituição. Assim, este trabalho tem por objetivo identificar a ocorrência e a manifestação da prática do duelo e do ideal de honra nesses dois textos, colocando-os em confronto. Observa-se em Antônio Malhadas e Augusto Matraga personagens que guardam semelhanças e diferenças em relação aos referidos aspectos. Procuramos evidenciar, no decorrer da análise, essas convergência e divergências, problematizando-as. O comportamento de ambas as personagens apontam para um resgate desses dois temas caros às narrativas medievais em que figuram o herói cavaleiresco. Nesse sentido, Malhadinhas e Matraga são aproximados e confrontados com esse tipo de herói, revelando-se como caracteres importantes para a comprovação de um aproveitamento de aspectos medievais em textos de escritores brasileiros e portugueses do século XX.
A proposta deste artigo é ler “A hora e vez de Augusto Matraga” como uma narração do sertão que o define como um espaço geográfico específico, mas também, e principalmente, como um espaço simbólico e imaginário relacionado à nação. Para tal delimitação, salientamos as fronteiras e as diferenças que o texto narra e que acabam por solapar classificações dualistas na interpretação do Brasil. Assim, atentamos, principalmente, para as caracterizações da personagem que dá título à novela, pois lemos a estória seguindo sua trajetória, passeando pelo sertão: imaginando códigos e leis baseados na oralidade e não na institucionalidade e na escrita. Por esse viés, olhamos a violência e a vingança pessoal como estratégia narrativa que define fronteiras simbólicas: o sertão é a fronteira imaginária de uma geografia mítica, espaço fora-da-lei, mas, ao mesmo tempo, síntese nacional.
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