Aliando instrumentos de análise dos campos da Lingü-
ística e da Literatura, procuramos identificar e compreender as leis
que regem a construção do conto “Famigerado”, de João Guimarães
Rosa. Tentamos compreender como o leitor reconstitui essa “estória”,
dado que, a despeito das dificuldades que o texto roseano lhe impõe,
ele a apreende de maneira coerente, apoiando-se no que parece simples
e familiar para ultrapassar o que é complexo e estranho. Para
tanto, focalizamos as dimensões temporais e demais elementos que
auxiliam a legibilidade do texto.
Analisam os a narrativa fílmica de Pedro Bial Outras estórias que retoma cinco contos de Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. O enfoque da análise são os motivos casamento e velório, que figurativizam os valores universais vida/morte, e o espaço do sertão. A partir desse recorte, propomos uma leitura que pretende demonstrar como o texto de Bial constrói a Cinderela do sertão mineiro.
Partindo do princípio de que nenhuma explicação literária prescinde
de um fundamento lingüístico, o trabalho tem por objetivo caracterizar
sucessivamente o português no Brasil, o falar sertanejo e o estilo
rosiano, para, finalmente, a título de exemplo, fazer o levantamento
e a análise de alguns fatos estilísticos, presentes no conto "Famigerado",
de Primeiras estórias.
O presente trabalho analisa a figura do “excluído” no conto Famigerado pertencente à obra Primeiras Estórias de João Guimarães Rosa (1908-1967), e a partir da Teoria Crítica da Sociedade de Herbert Marcuse (1898-1979). Com base em uma revisão bibliográfica, observa-se que na filosofia de Herbert Marcuse os excluídos despontam como sujeitos capazes de mudar a realidade que estão inseridos. No conto Famigerado verifica-se que Damázio é um notório excluído da sociedade brasileira, excluído economicamente, excluído das cidades e um não-escolarizado que não tem acesso ao conhecimento produzido em linguagem oficial. Mas Guimarães Rosa não o retrata como um incapaz, mas sim um homem que tem o poder das armas, que luta para sobreviver e ter uma vida que considera digna. Marcuse define a literatura como uma das dimensões estéticas que estabelecem negação a realidade hodierna e pode falar a linguagem e experiência dos oprimidos e excluídos.
Pretende-se investigar como a ambivalência no conto “Famigerado”, de Guimarães Rosa, não se restringe ao significado da palavra famigerado, mas, partindo dela, é possível entender como aspectos opostos se tornam elementos estruturantes da narrativa, que, por sua vez, incorpora e problematiza as diversas ambiguidades geradas por certa modernização que chega a realidade do sertão brasileiro. Nota-se, portanto, que a linguagem e sua significação não podem ser compreendidas se desligadas dos fatores sociais e históricos, assim como a poética de Guimarães Rosa.
O presente trabalho discute as oscilações do protagonista-narrador do Grande sertão: veredas entre sua tentativa de estabelecer um nome próprio – como lugar seguro das designações – e sua inserção nas instáveis veredas de uma identidade infinita e tem como referencial teórico as discussões dos chamados pós-estruturalistas franceses. Ao levantar um mapeamento das posturas do personagem, este estudo objetiva tomar as suas experiências paradoxais como chave de leitura para reflexão sobre a destituição das identidades fixas, o saber nômade da contemporaneidade e as tensões inerentes a tais processos. O mapeamento revela as relações de embate e articulação entre nome próprio e identidade infinita que têm repercussões para as questões relativas à identidade propriamente dita, aos episódios da chefia, à metafísica riobaldiana e às estratégias narrativas do protagonista. Este estudo investiga se o caráter indagador do personagem impulsiona a instabilidade e a desterritorialização, ou se corresponde a uma tentativa desesperada de constituir os territórios de um nome próprio delimitado. Conclui que o personagem desenvolve um tipo relativo de desterritorialização, no qual nome próprio e identidade infinita conjugam-se em um processo dinâmico entre desterritorialização e reterritorialização que, ao invés de deter, colabora para manter ativo o movimento. Para melhor ilustrar e refletir sobre tal questão, compara as posturas do protagonista do Grande sertão: veredas com as de outros três personagens rosianos: Nininha, Brejeirinha e o narrador do conto “Famigerado” de Primeiras estórias. Salienta, também, o caráter heterogêneo e indagador que liga obra, crítica e teoria em contribuições recíprocas.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Neolatinas
A pesquisa presente realça as variações das traduções franesas, de 1910 até 2004, de oito contos dos escritores brasileiros Machado de Assis e Guimarães Rosa. A partir de um corpus de oito contos (quatro de cada autor), confrontamos os trabalhos de doze tradutores, de acordo com a metodologia de Berman. Definimos, primeiramente, os problemas encontrados na tradução e na retradução, expondo suas principais teorias na França, do século XVI até os dias de hoje. Em seguida, estudamos as relações literárias França-Brasil e a recepção das obras brasileiras na França, assim como o "horizonte das traduções". Na segunda parte, apresentamos os "sistematismos" da escrita de Machado (a distância para com o realismo e a presença do narrador no texto) e os "intraduzíveis" de Guimarães Rosa (o particular e o universal bem como a língua recriada), mostrando como os tradutores resolveram esses "particularismos". Depois de ter apresentado os primeiros tradutores, que apresentam, geralmente, uma tendência "etnocêntrica" e estão sempre prontos para "naturalizar" a obra, e, em seguida os retradutores, com uma tendência "estrangeirizante" e "literalizante", investigamos, a partir dos textos, os seus "projetos de tradução", suas "éticas", suas "posições tradutivas" e suas "bibliotecas imaginárias". Enfim, comparamos nos dois autores a maneira como os aforismos, as expressões do popular e da loucura são traduzidos. Este trabalho mostra a variedade de tons e sentidos dados a um texto original, na medida em que cada tradutor materializa diferentes sentidos possíveis da obra faz com que ela tenda a ser retraduzida.
Esta dissertação trata da análise, do ponto de vista literário, da tradução intersemiótica/adaptação cinematográfica de cinco contos do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa: "Famigerado"; "Os irmãos Dagobé"; "Sorôco, sua mãe, sua filha"; "Nada e a nossa condição"; e "Substância", que compõem o enredo do filme Outras Estórias (1999), do jornalista e diretor Pedro Bial. Trata-se de um estudo comparativo de cada um dos contos a partir das análises literária e cinematográfica, bem como da interseção das duas linguagens. Destacam-se as características da linguagem verbal escrita e as soluções encontradas para a reescrita no suporte verbal e imagético, através da opção de montagem de um único enredo composto pelos cinco contos.
Análise das transposições realizadas, para o vídeo e para o cinema, do conto "Famigerado", de Guimarães Rosa, além da análise da narrativa "Cara-de-Bronze" enquanto texto transemiótico. Para este estudo foram utilizados, sobretudo, os conceitos de transcriação, de Haroldo de Campos, e de transtexutalidade, de Gerard Genette. Também foi feito um lavantamento das transposições realizadas a partir da obra rosiana para o sistema de signos audiovisual um estudo comparativo das linguagens cinematográfica, vídeográfica e televisiva, entre si, e com a linguagem verbal.
O objetivo desta tese é realizar leituras intersemióticas dos contos rosianos Famigerado, A menina de lá, A terceira margem do rio, Sequência e A Benfazeja e suas respectivas ilustrações realizadas por Luís Jardim para o livro Primeiras estórias. Ao realizar as leituras mostraremos que a relação palavra/imagem, sugere uma forma de recriação da linguagem. Os resultados apresentados foram formulados a partir das teorias gerais da ilustração em consonância com a base teórica de Umberto Eco sobre os aspectos da semiose hermética, presentes no livro Os limites da interpretação (1990).
Este trabalho analisa os personagens SeteMeis, de O resto é silêncio, Érico Veríssimo, Damázio, o
jagunço do conto “Famigerado” (Primeiras estórias), de Guimarães Rosa, e Rael, da obra Capão
pecado, Ferrez. Em três momentos diversos da História e da Literatura Brasileiras, autores
diferentes constroem o discurso de personagens que historicamente sempre estiveram à margem da
sociedade.
Moramos na linguagem. Muito mais que um instrumento transmissor de ideias – e logo, algo secundário em relação a algum ‘mundo real’ - composto de sinais, é por ela que temos acesso ao mundo e, inclusive, ao que chamamos subjetividade. Famigerado, conto de João Guimarães Rosa que narra a inquietação de um perigoso jagunço a respeito do epíteto que lhe foi dado, bem como do médico que é consultado a respeito do significado do apelido, é, neste sentido, uma oportunidade de compreendermos os diversos níveis de análise da linguagem, trabalhada sob dois níveis – ontologicamente distintos: o apofântico – do discurso, cujos níveis de análise correspondem ao semiótico, e seus subníveis, o sintático, o semântico e o pragmático, e ao nível racional-comunicativo – e o hermenêutico – relativo à práxis, ao contexto, ao mundo vivido. Noutras palavras, a linguagem trabalha não apenas no dito, mas também no não dito.
Atenção! Este site não hospeda os textos integrais dos registros bibliográficos aqui referenciados. Para alguns deles, no entanto, acrescentamos a opção "Visualizar/Download", que remete aos sites oficiais em que eles estão disponibilizados.