Guimarães Rosa constrói uma percepção da loucura por meio da linguagem em "Sorôco, sua mãe, sua filha", conto de Primeiras estórias. No início do século XX, o saber moderno, a modernidade urbana e a consolidação da psiquiatria instauram que a loucura deve ser excluída do convívio das grandes cidades e da sociedade. Já, no conto, há várias estratégias de inclusão, propiciadas pela linguagem.
O artigo faz relações entre o pensamento de Schopenhauer e a literatura de Guimarães Rosa a partir das idéias da compaixão e do sofrimento formuladas pelo filósofo alemão.
O presente trabalho tem como objetivo analisar os temas da loucura e da morte, no conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, do livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa.
Num poema intitulado “Desterro”, que está presente na, aparentemente, única obra poemática escrita pelo literato João Guimarães Rosa, datada de 1936, é possível observar-mos, conquanto sucintamente, dois notáveis caracteres constantes das Primeiras Estórias, do já mencionado autor, e das Vidas Secas, do escritor Graciliano Ramos, de modo geral, e no conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, daquele primeiro livro, e no capítulo “Festa”, deste último, de modo particular, visto que os referidos caracteres podem, respectivamente, ser representados pela tristeza e pela viagem – estúltima, permeada por amplas e tortuosas lou-curas – que as personagens de ambas as estórias devem realizar para cumprir as incumbên-cias às quais, por vezes, creem haverem sido predestinadas.
Nesta pesquisa, buscou-se abordar a relação entre as práticas de conduta social e o
processo cultural e civilizatório que envolve a temática da loucura através dos
tempos, sob os aspectos legais, psicológicos e literários, além do desenvolvimento
tanto das práticas e estilos literários, quanto das premissas de convívio harmonioso
entre a obra, o autor e os leitores. Foram analisadas opiniões e obras de
especialistas, escritores, psicólogos e cientistas sociais, bem como de diversos
profissionais das áreas afins, sobre a loucura e a sua abordagem na literatura,
possibilitando investigar, identificar em busca da superação das dificuldades de
entendimento social, cultural e civilizatório sobre a loucura, em especial na obra de
Guimarães Rosa (2005), “Sorôco, sua mãe, sua filha”, observando as
particularidades desta realidade mutável e dinâmica, para que possam agir de forma
correta e equilibrada dentro dos limites literários e das instâncias socioculturais e de
natureza psicológica.
Na obra de João Guimarães Rosa, a loucura não é apenas um tema recorrente. Os loucos apresentam-se intimamente relacionados à poética do autor, são detentores de sabedorias que superam o campo estritamente racional, são seres ligados ao mundo profético, à poesia, à criança e a todos os elementos que simbolizam o homem criativo. A partir de uma das sagas de Corpo de baile e de algumas das estórias que compõem a obra Primeiras estórias, este trabalho propõe um estudo de personagens que vivem à margem da razão, de modo a entender a singularidade do desatino rosiano.
A proposta desta dissertação é estudar a rememoração na obra Primeiras estórias (1962), de
João Guimarães Rosa, tendo, como suporte teórico, a teoria da reminiscência de Platão. Para o
filósofo, a alma é imortal, pois sempre renasce em diferentes corpos. E quando uma pessoa
aprende algo ocorre uma rememoração, porque há apenas a recordação de um saber já
adquirido pela alma no mundo das ideias. Pretende-se, com base nessa teoria de Platão,
compreender os acontecimentos considerados misteriosos nas estórias rosianas, por se
distanciarem da lógica tradicional, e os comportamentos enigmáticos dos personagens. Por
serem muitas as narrativas que compõem o livro Primeiras estórias, restringiu-se o corpus a
sete contos: “A terceira margem do rio”, “A menina de lá”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”,
“Nenhum, nenhuma”, “Um moço muito branco”, “As margens da alegria” e “Os cimos”.
O objetivo desta tese é contribuir com a reflexão acerca das formas de representação de grupos marginalizados na literatura brasileira, especificamente no que se refere aos indivíduos psiquicamente perturbados – referidos como loucos. Tomada como objeto social, a loucura é construída por uma rede de discursos que circulam socialmente em relação ao ser do louco e da especificidade da loucura. Se o fenômeno pode ser tratado sob diferentes perspectivas, também o discurso literário, como fonte e espaço de representações, contradições e tensões, pode expressar um saber sobre esse objeto, possibilitando uma compreensão do louco enquanto alteridade, e mesmo como uma identidade social, considerado sujeito da diferença. Partindo do estudo de obras ficcionais literárias relativamente recentes, esta tese aponta a seguinte constatação: conforme o modo de representação da personagem louca, o texto literário estaria operando uma visão emancipatória em relação a esse grupo marginalizado, ou, por outro lado, reforçaria os estereótipos e os preconceitos existentes no espaço social, ao passo que as uto-representações centram-se na linguagem e na escrita como estratégias para revelação de novas identidades sociais. Mediante uma análise estrutural da composição da personagem, examina-se o modo de representação na construção da identidade e da alteridade, apontando elementos usados nos textos que configuram identidades deterioradas pelo estigma de loucas. Este estudo contempla obras narrativas ficcionais da literatura brasileira publicadas no período compreendido entre 1951 e 2001. Enquanto as representações da alteridade são colhidas dos textos literários ―A doida‖ (1951), de Carlos Drummond de Andrade; ―Sorôco, sua mãe, sua filha‖ (1962), de Guimarães Rosa; ―As voltas do filho pródigo‖ (1970), de Autran Dourado; Armadilha para Lamartine (1976), de Carlos Sussekind; O exército de um homem só, (1973), de Moacyr Scliar; e O grande mentecapto (1979), de Fernando Sabino; as auto-representações são obtidas das obras Hospício é Deus (1965), de Maura Lopes Cançado, e Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (2001), de Stela do Patrocínio. Para fundamentar teoricamente a discussão sobre o problema, toma-se como base a teoria da narrativa, com uma abordagem em que se cruzam pressupostos das teorias da identidade e da Teoria das Representações Sociais com o pensamento filosófico de Michel Foucault. No desenvolvimento da análise, considera-se ainda a contribuição das pesquisas da antropologia social, de Erving Goffman, em diálogo com a visão política dos estudos culturais, além de textos de antipsiquiatras, como Thomas Szasz e David Cooper, que debatem o estatuto da loucura no mundo contemporâneo.
O estudo que se apresenta intenciona investigar a pontuação como uma das estratégias de linguagem engendrada na construção narrativa que possibilita a articulação de diversas vozes e consciências de modo que o texto literário mobilize princípios polifônicos. A pontuação, elemento presente na escrita, é tradicionalmente concebida pelos programas e prática escolar dentro da disciplina de Língua Portuguesa como elemento de notação que diz respeito a aspectos da oralidade (para auxiliar a leitura) e reduzida ao nível da frase. Porém, a perspectiva contemplada nesta pesquisa concebe os sinais gráficos imbuídos de outras facetas, além da proposição normativa que refrata a face discursiva e textual. Propõe-se apontar possibilidades de realizar um deslocamento da visão tradicional de pontuação, enfocando a potencialidade enunciativa e discursiva desses sinais, tornando-os fundamentais para a configuração de sentido do texto, atuando no território do discurso. Propondo apontar possibilidades outras dos sinais de pontuação, também se constitui como desafio desse trabalho não dissociar língua e literatura, uma vez que se toma por objeto de análise três contos escritos por Guimarães Rosa “Sorôco, sua mãe, sua filha”, “A menina de lá” e “Tarantão, meu patrão...”– integrantes do livro Primeiras Estórias (1962) e realiza um exercício de análise da construção narrativa associado ao uso da pontuação mobilizado nesse discurso. Essa proposta de trabalho encontra-se, dessa forma, ajustada à linha de pesquisa Subjetividade, Texto e Ensino que prevê pesquisas que promovam uma melhor compreensão da relação língua/linguagem/literatura com o discurso e o texto. Na sua elaboração recorreu-se a vários teóricos os quais permitiram avançar na análise de aspectos linguísticos (especificamente sobre o emprego dos sinais gráficos na constituição de sentidos do texto) e outros autores e seus estudos acerca dos processos de enunciação na produção literária. A fundamentação teórica principal adotada é de Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975) – grande filósofo da linguagem do século XX. Conceitos da complexa arquitetura bakhtiniana oferecem suporte ao estudo da linguagem e, especificamente este trabalho dialogará com os conceitos de dialogismo, polifonia, plurilinguismo. Para o trabalho de levantamento bibliográfico na área de estudo da pontuação, destacam-se as contribuições de Véronique Dahlet (2002, 2006, 2007), Lourenço Chacon (1998), Tânia Câmara (2007, 2008) Bernardes (2002), Saleh (2009, 2010, 2012) entre outros. A escolha de três contos de João Guimarães Rosa se dá por sua ruptura com a linguagem fazendo uma espécie de renovação estilística, fator que possibilita reafirmar o quanto a pontuação amplia as possibilidades de sentido de um texto literário.
Pretendemos analisar o conto “Soroco, sua mãe, sua filha”, do livro Primeira estórias, de João
Guimarães Rosa, e revelar aspectos de uma tragicidade nos moldes propostos por Friedrich
Nietzsche em seu Livro, O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo. Entendemos que os
acontecimentos narrados no conto rosiano traduzem forças apolíneas e dionisícas que,
sobremaneira, expõe tessituras tramadas entre os gêneros do conto e da tragédia. O conto narra a
estória de Sorôco, um homem do povo que, numa sociedade marcada pelo controle, sem condições
de cuidar de sua mãe e sua filha deve, a contra gosto, entregá-las aos cuidados do hospício de
Barbacena. Os acontecimentos narrados comportam nuances de uma encenação trágica, cujas
urdiduras perfazem o coro que, pela forma como surge no conto, assemelha-se à maneira como
Nietzsche o percebe na tragédia grega.
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