"O Recado do Morro", narrativa que faz parte de Corpo de Baile (1956), de Guimarães Rosa, funda-se no motivo da viagem para privilegiar a escrita da natureza e a alegoria do Brasil.
A unidade da enunciação de Riobaldo, em Grande sertão: veredas, aparece cindida pela oposição complementar de dois princípios constitutivos, como um jogo com sinônimos (vários nomes para um ser só, "Deus") e homônimos (um só nome para coisas e eventos, "Diabo"). A oposição é talvez o principal operador metalinguístico do texto e é por ela que são articulados outros níveis de sentido do romance, como o das alegorias da filosofia neoplatônica, o da luta política no sertão, o do amor, o do mito e o da linguagem.
A crítica sobre a obra de Guimarães Rosa assumiu diferentes perspectivas no decorrer dos anos, da estilística à sociológica. No interior desta tradição crítica ocorreram alguns deslocamentos conceituais que ilustram o processo recepcional descrito por Jauss, em obras como Pour une hermenéutique littéraire ( 1988). Nesse contexto, o exame da recepção critica da obra “Dão- Lalalão”, de Guimarães Rosa, permite indicar o deslocamento do conceito de alegoria. Assim, de uma leitura mítico- religiosa à sócio- histórica, a alegoria de “Dão- Lalalão” serviu a diferentes horizontes de interpretação, evidenciando, assim, a dinâmica estético- recepcional postulada pela teoria jaussiana.
Este estudo analisa o conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, à luz do Barroco. Este conto aproxima-se do drama barroco (Trauerspiel) alemão do século XVII, que foi estudado por Walter Benjamin em uma de suas obras mais importantes. As semelhanças entre o conto e o teatro barroco ajudam a entender um pouco mais o conteúdo tão enigmático do texto de Rosa. Tal aproximação tem como ponto central a noção de alegoria, e esclarece a relação do Barroco com a modernidade.
Este trabalho objetiva, em primeiro lugar, tecer algumas considerações gerais sobre o ciclo de novelas Corpo de baile, publicado por João Guimarães Rosa em janeiro de 1956. Em seguida, no contexto da obra ? aqui considerada como uma representação moderna do topos milenar da máquina do mundo ?, tenciona-se avaliar criticamente a novela ?O recado do morro?, aplicando-se à análise conceitos como mitopoesia, cosmopoesia e alegoria.
A percepção de que as experiências vivenciadas pelo homem na modernidade transfiguraram as narrativas literárias temática e formalmente, estabelece o escopo para requisitar a alegoria como instância explicativa dessa nova realidade. Sobrepujando o símbolo como recurso para consignar validade estética à arte, no livro Origem do drama trágico alemão, Walter Benjamin vislumbra a alegoria como a revelação de uma verdade oculta que não representa as coisas apenas como elas são, mas oferece, também, uma versão de como elas foram ou poderiam ser. Como ressonância dos fundamentos implicados nessa leitura, este trabalho adota a alegoria como categoria analítica visando identificar as diversas formas como a violência se presentifica no conto A hora e a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. Como linha de força da contextura material que enlaça a narrativa, a nossa interpretação manterá diálogo com os condicionantes históricos de uma época em que os valores sociais no Brasil estavam em franca transição, exigindo adequações estéticas capazes de incorporar a visão de um sertão místico, violento e encantatório.
Este texto é um estudo sobre o livro de poemasMagma de Guimarães Rosa, obra que submete à revisão a concepção de poesia. Esta técnica de produção artística representa um querer mimeticamente artístico, um querer poeticamente barroco. O objetivo deste texto é investigar esta escrita de Magma a partir dos estudos de Walter Benjamin, Severo Sarduy e Maria João Cantinho. Buscaremos conhecer a poética de Guimarães a partir desta provocação alegórica à travessia. Entendemos que Magma é o reino do barroco; Produção artística que finca suas raízes na mistura do clássico com o moderno, do erudito com moderno.Magma representa um questionamento risonho sobre a ideia de origem, por que nessa origem se encontra impregnada a ideia de realidade,como poesia procura seu reconhecimento no derretimento desse conceito. Magma uma elaboração poética em que a percepção primitiva do semelhante desenvolve-se, retraçando inexoravelmente a propedêutica elementar da modernidade, sua significação alegórica. Magma nos indica o caminho do verrossímel e mimético pelas metáforas fragmentadas que dão vazam a um discurso poético clarividente. Porém, é no campo da alegorizaçãoque as imagens cadavéricas da poesia barroca encontram espaço para se manifestarem. Aqui se sobrepõe o sentido de metáfora e de alegoria, ou seja, sobre o que é a modernidade barroca, o que instaura nos poemas uma faculdade mimética da percepção. Para este estudo partiremos do conceito de origem e de artebenjaminiano, para com este conceito compreender as alegorias presentes na poesia de Rosa. Os conceitos acima também nos auxiliaram a ler essa poética a partir da ideia barroca de arte, visando conhecer as imagens alegóricas representadas pela água. Esperamos como resultado a construção de uma leitura reflexiva sobre a travessia de Magma no cenário da escrita Roseana, tendo em vista sempre os aspectos alegóricos.Palavras-chave:Magma, barroco, alegoria.