ISSN 2359-5191

31/10/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 15 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Pesquisa desvenda o processo de construção de identidades de jovens mães

São Paulo (AUN - USP) - Estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP investigou como se processa a construção de identidades de jovens mães, com idade entre 15 e 19 anos. A pesquisa Jovens Mães e Processos de Construção de suas Identidades, da assistente social Rosa de Lourdes Azevedo dos Santos, foi realizada na área de abrangência da Unidade de Saúde Iguaçu, situada no Parque São Lucas (região Sudeste de São Paulo) nas favelas Mendes e Iguaçu, e apresentada como dissertação de mestrado na FSP em junho último.

Para realizar o estudo, a pesquisadora adotou dois procedimentos metodológicos. O primeiro, com dados quantitativos, traçou o perfil das jovens mães cadastradas no Programa Qualidade Integral de Saúde/Programa Saúde da Família (Qualis/PSF), onde foram identificadas 97 mães num universo de 3.742 famílias. O perfil constou de informações sócio-demográficas, história reprodutiva, situação conjugal e suporte familiar ou social das mesmas. O segundo procedimento, de natureza qualitativa, procurou desvelar como se processava a construção de identidades de 15 jovens mães integrantes do mapeamento. Segundo Rosa, à medida que os agentes comunitários de saúde realizavam as visitas de rotina às famílias cadastradas no Qualis/PSF e tomavam conhecimento da existência de alguma mãe com idade entre 15 e 19 anos preenchiam um formulário específico, com dados da pesquisa. As 97 jovens mães localizadas tinham um total de 117 filhos vivos e 3 histórias de bebês que ainda estariam para nascer. Algumas dessas meninas iniciaram a experiência sexual entre os 12 e 13 anos de idade e a maioria teve filhos com homens mais velhos.

De acordo com alguns dados da pesquisa, 73,2% das jovens mães eram procedentes do Estado de São Paulo; 69,1% tinham o primeiro grau incompleto, sendo que 92,7% abandonaram as atividades escolares; 66% são brancas; 75,4%, não têm vínculo com igrejas; 75,3% se auto-definiram como donas de casa. Com relação à história reprodutiva: 87,6% são mães solteiras, sendo que, das 12 casadas, 10 dos casamentos ocorreram em decorrência da gravidez; a média de gravidez foi de 1,5 por mulher e a média de filhos foi de 1,23 filhos. Segundo a pesquisadora, 12 dessas mães tiveram histórias de aborto: 10 declarados espontâneos e 2 provocados, sendo que uma das pesquisadas teve três histórias de aborto, todos "espontâneos". "Deve-se ter cautela a respeito desta informação, pois ela pode ser subnotificada por se tratar de assunto proibido na nossa sociedade", alerta Rosa. Por conta disso, "muitas não falam sobre esse assunto com naturalidade", acrescentou. Quanto à paternidade, o estudo apontou que 74,2% dos pais têm presença na vida da criança da seguinte forma: 72,5% só ajudando financeiramente ou registram a criança. A maioria (81,4%) dos pais das crianças tem mais de 20 anos de idade. "Algumas delas se casaram em decorrência da gravidez e uma delas revelou que, por conta do casamento, devia obediência ao marido", revelou Rosa.

Pais ausentes
A gravidez ocorreu inesperadamente, mas nem todas foram repelidas. As meninas revelaram que dos métodos anticoncepcionais, conheciam apenas a pílula e a camisinha, mas não sabiam usar adequadamente as pílulas, por exemplo. Depois do primeiro filho enfrentam o medo de não engravidar novamente. Algumas foram abandonadas na ocasião da gravidez. "Geralmente os parceiros têm uma reação negativa e a família uma reação de cobrança. Quando a criança nasce, a tolerância é bem maior e elas se aproximam mais de suas mães, enquanto que os pais continuam ausentes".

O parto - e não a primeira menstruação - é o momento mágico em que elas se sentem definitivamente mulheres. Algumas das entrevistadas revelaram gostar da maternidade, apesar de assumirem o bebê de modo muito solitário e muitas vezes acharem que passaram a viver em um tipo de prisão. Algumas disseram que a chegada da criança representou a salvação de sua vida, por ter-lhe tirado da "gandaia" e lhe dado "responsabilidade". "A maioria das jovens mães entrevistadas se auto-definiram mais amadurecidas a partir da vivência da maternidade e informaram ter adquirido mais responsabilidade após o nascimento do bebê", conclui Rosa.

Mais informações:
Rosa de Lourdes Azevedo dos Santos - (0XX11) 3812-8681 (horário comercial)
E-mail: rosadelourdes@uol.com.br

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