Propomos demonstrar que as principais possibilidades de abordagem da obra de Guimarães Rosa foram, pioneiramente, traçadas ou levantadas por Antonio Candido. Para tanto, tomamos como base dois textos seminais sobre Grande sertão: veredas: “O homem dos avessos” e “Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa”. Nesses e em outros ensaios e resenhas, o crítico traz as ideias que têm balizado os estudos sobre Guimarães Rosa. Embora Antonio Candido seja considerado como o fundador da vertente crítica sócio-histórica da obra do escritor mineiro, consideramos que outras abordagens como a metafísica, a mítica, a linguística, a psicanalítica têm também seu nascedouro nos seus textos.
Estudo do campo lexical da palavra faca e de outros lexemas que se referem às armas brancas em Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa, tendo-se em vista os significados dos vocábulos no universo de sentidos do romance. A orientação teórica centra-se, sobretudo, nas propostas de H. Geckeler e ainda nas de J. Lyons.
A criação neológica estilística enfeixa a criatividade lexical e a neologia semântica. A neologia de sentido consiste no emprego de um significante já existente na língua c om um conteúdo que ele não possuía, ou porque o conteúdo é novo ou porque, até aquele momento, era expresso por outro significante. No texto literário, uma criação resultante desse tipo de procedimento tende a não se repetir. É o que chamamos de neologia semântica estilística. Nessa operação, a estrutura da frase tem função básica, pois, no mínimo, é necessário um sintagma para que surja novo sentido. A partir de algumas relações sintagmáticas, estudamos certos modos de manifestação da neologia semântica em Grande sertão: veredas.
O artigo tem como objetivo expor e analisar as principais características que fazem com que a obra rosiana seja considerada uma revolução na prosa nacional, a partir do levantamento das vertentes da fortuna crítica e da reflexão sobre o modo como as noções de aparência e realidade apresentam-se em diferentes textos do escritor.
Apresentam-se o Arquivo Guimarães Rosa do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo e as partes que o constituem, destacando-se, em especial, a sub série Estudos para a obra. O aproveitamento de material de arquivo na obra do escritor é assinalado ao mesmo tempo em que se mostra de que maneira pode ocorrer tal operação.
Estabelecemos relações entre memória, cultura e arquivo para refletir sobre o Arquivo Guimarães Rosa do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Memória é a possibilidade de dispor de conhecimentos passados que permitem ao homem construir a cultura, que, quando viva, é aberta ao futuro, mas ancorada no passado, dependente de algum tipo de acumulação, que pode se dar por meio dos velhos ou pelo material conservado nos mais variados acervos – arquivos, museus, bibliotecas. Guimarães Rosa, anotando, recortando, classificando e conservando uma grande quantidade de documentos, construiu uma forma de memória objetiva para uso posterior na produção literária, uso que realizou de maneira muito especial no que se refere ao sertão.
Na composição do sertão rosiano, os animais são presença constante. Embora, de todas as imagens, as dos animais sejam as mais comuns, em Grande sertão: veredas, chama a atenção não apenas o grande número de vezes em que eles aparecem, como as peculiaridades que revestem tal freqüência. O levantamento das ocorrências mais significativas da presença animal no texto, quer como tema quer como figura, e a análise da maneira como elas se dão mostram que o imaginário do sertão relativo a esse aspecto resulta da combinação de imagens tidas como universais e imagens particulares.
O artigo examina a recriação de notas de A boiada (diário de viagem de Guimarães Rosa) referentes ao discurso direto em " Uma estória de amor". A retomada dessas anotações, ocorrendo preferencialmente no discurso citado das personagens, reforça a presença de regionalismos lingüísticos nessa instância, sem estabelecer a dicotomia entre o discurso citado e do narrador.
O trabalho estuda personagens e ação de quatro contos da coletânea Primeiras estórias de Guimarães Rosa, aproximando-os da adaptação dessas narrativas realizada por Pedro Bial no filme intitulado Outras estórias. O objetivo é comprovar a hipótese de que determinados protagonistas dessas composições, de um lado, constituem retomadas de arquétipos fixados no nosso imaginário cultural e, de outro, refletem as condições sociais do país. O elemento principal entre aqueles que Pedro Bial toma para estabelecer a relação entre os textos que compõem o filme, de modo a formarem uma narrativa unificada, é representado justamente pelas personagens. Entre os protagonistas/arquétipos a serem examinados estão o valentão, o rei sábio, a cinderela.
Este artigo focaliza a possibilidade de existência de pontos de convergência ou de afastamento e confronto entre dois tipos de abordagem do pacto fáustico na recepção crítica de Grande sertão: veredas, representativos das duas linhas de leitura que vêm polarizando o debate crítico centrado no romance de Guimarães Rosa, a saber: a sociológica, historiográfica e política e a esotérica, mitológica e metafísica. Metodologicamente, a presente investigação orienta-se pelos estudos comparativos, mas com uma especificidade: o objeto de comparação é a crítica e não a criação literária.
O objetivo deste artigo é propor elementos para uma poética rosiana a partir de juízos teóricos emitidos pelo próprio Guimarães Rosa acerca da literatura e da língua, em textos não ficcionais – entrevistas, cartas e outros escritos – e também ficcionais. Para a reflexão sobre o conceito de poética baseamo-nos em Ferdinand de Saussure, Jean Starobinski, Roman Jakobson, Paul Valéry, Tzvetan Todorov entre outros.
Embora a crítica machadiana e a rosiana já tenha se debruçado sobre essas narrativas, isoladamente, ou por meio de comparação, acreditamos haver alguns aspectos desses contos que merecem ser ainda explorados. Assim, o artigo propõe-se a comparar os dois contos homônimos de Machado de Assis e de Guimarães Rosa, procurando observar os pontos de convergência e os de divergência no que diz respeito à importância das narrativas na produção de cada um dos escritores, na concepção sobre o tema, na construção da história, na escolha dos narradores.
A novela "Buriti" de Guimarães Rosa que compõe, atualmente, o volume Noites do sertão, inspirou o filme de Carlos Alberto Correia que tomou o título do livro mencionado. Pretendemos aproximar o texto
literário e o fílmico, tendo o primeiro como ponto de partida, para verificar de que modo o filme constrói o que é básico na novela: a inscrição no universo do mito.
Tendo como embasamento teórico a semiótica greimasiana, faz-se análise comparativa da história de Cinderela, na versão de Charles Perrault, com dois filmes e um conto de Guimarães Rosa, para verificar o modo como o tema “o amor tudo vence” é tratado nesses textos. A história de Cinderela renova-se, recobrindo-se com novas figuras, como conseqüência da alteração nos traços sêmicos dos papéis de príncipe e de princesa.
Como têm sido publicados, em número crescente, trabalhos baseados na noção/conceito de alegoria sobre a obra rosiana, dos quais alguns têm tido repercussão e visibilidade nos meios acadêmicos - pela seriedade e também pela originalidade com que analisam seu objeto -, examinamos três estudos que tratam a obra de Guimarães Rosa, sobretudo Grande sertão: veredas, como alegoria histórico-política e social do Brasil: de Heloisa Starling, de Willi Bolle e de Luiz Roncari, que, recentemente, sobretudo os dois últimos, publicaram estudos alentados nessa direção. Esses autores têm procurado realizar uma reinterpretação de Grande sertão: veredas a partir da concepção de alegoria, em especial, a de Walter Benjamin, estabelecendo um paralelismo entre o romance rosiano e estudos de historiadores e sociólogos como Oliveira Vianna, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro, Gilberto Freyre. Trata-se de leitura que tem raízes, principalmente, nos ensaios de Antonio Candido e de Walnice Nogueira Galvão e que, pelo modo de interpretar a relação realidade/obra de fi cção, traz implicações que merecem ser discutidas.