O ensaio examina se uma possível leitura do poema "Haft Peikar" ("As sete efígies") de Nezami, poeta persa do século XII, pode ter sido fonte de inspiração para a elaboração, por Guimarães Rosa, de sua obra Corpo de baile.
É possível falar de um exotismo essencial na obra de João Guimarães Rosa ou, ao menos, que ela possui peculiaridades de uma humanidade local frente aos olhos de um citadino letrado? Se, por um lado, tal leitura é possível e legítima, por outro, não estaríamos correndo o risco de cair em um reducionismo demasiadamente simplista? Não seria melhor pensarmos que a verve desse autor, a idiossincrasia de seus personagens, sua linguagem e seu universo ocultam questões fundamentais capazes de suscitar reflexões que podem subverter as condições impostas pela realidade vigente? Tal é a hipótese que guiará nossa investigação. Buscaremos reconhecer o caráter exemplar dessa obra frente ao controle exercido por uma racionalidade soberana e soberba, inserindo-a no rol da modernidade artística.
Tremem triângulos nas tramas; João Guimarães Rosa, suas fontes, seus estilos, seus leitores; meu ensaio três vezes recortado. No escritor mineiro, segundo a tradição crítica, tudo é e não é; esse ponto crucial do autor cruza com a noção crucial de Trindade, de modo que se pode notar a dor, o sofrimento e a agonia da influência; no meio do redemoinho. Por isso este trabalho se volta, principalmente, para a avaliação das formas pelas quais Rosa internaliza o procedimento trino-unitário tanto em sua poética geral, quanto em Corpo de Baile e em "Buriti".
m 1956 a então Livraria José Olympio Editora trouxe a público, além de Grande Sertão: Veredas, a obra Corpo de Baile, de Guimarães Rosa, composta por sete novelas. Publicada naquele momento em dois volumes, apresentava as novelas como poemas, no primeiro índice; como romances ou contos, no segundo índice, além da denominação de “GERAIS” e “PARÁBASE”. Em 1960, o livro foi reeditado em volume único, mantendo-se, no entanto, as várias classificações para as narrativas. Na terceira edição, com o consentimento do autor, a obra foi dividida em três volumes autônomos, Manuelzão e Miguilim (1964), No Urubuquaquá, no Pinhém (1965) e Noites do sertão (1965), passando a figurar Corpo de Baile como subtítulo. Essa, no entanto, não foi a única e talvez nem mesmo a maior modificação que recebeu a obra. A classificação de “GERAIS” e “PARÁBASE” desapareceu, ausente do livro até a publicação comemorativa do cinqüentenário de Corpo de Baile, pela Nova Fronteira. A partir da quarta e póstuma edição, por um provável descuido da editora, novas falhas somam-se as já existentes, o que também só foi sanado na edição comemorativa a que nos referimos.
Em nossa comunicação, exporemos algumas das alterações empreendidas em Corpo de Baile e analisaremos suas implicações no projeto original da obra. A correlação entre a estrutura da Comédia Antiga presente em “Cara-de-Bronze”, por exemplo, classificada até a segunda edição também como parábase, obscureceu-se. Outras conseqüências prejudiciais à compreensão da obra como um todo serão igualmente apontadas.
Passados dez anos da estréia em livro, Guimarães Rosa publica, em 1956, pela então Livraria José Olympio Editora, Corpo de Baile e Grande sertão: veredas. A primeira obra sofreu modificações consideráveis em sua organização ao longo das três primeiras edições, que o autor, falecido em 1967, conheceu. Dividido inicialmente em dois volumes, Corpo de Baile foi reeditado em volume único, em 1960, e em três volumes autônomos, quando da terceira edição: Manuelzão e Miguilim (1964), No Urubuquaquá, no Pinhém (1965) e Noites do sertão (1965), passando a figurar Corpo de Baile como subtítulo. As novelas, que se relacionam entre si inclusive por meio da migração de personagens, tiveram ainda sua classificação apontada nos índices – Corpo de Baile apresenta um índice de abertura e um de conclusão – paulatinamente alterada, perdendo-se denominações, invertendo-se outras, e, por um provável descuido da editora, acrescentando-se novas falhas as já existentes ao longo do tempo, o que só foi sanado na edição comemorativa dos cinqüenta anos da obra, publicada pela Editora Nova Fronteira em 2006. Com este trabalho, objetivamos destacar algumas das alterações empreendidas em Corpo de Baile e analisar suas implicações no projeto original da obra. Veremos assim em que medida tais modificações prejudica(ra)m a compreensão da obra como um todo, como um só corpo que é.
O núcleo desta reflexão é a análise da relação entre corpo e paisagem, tema ainda insuficientemente explorado na obra de Guimarães Rosa, e as formas como a paisagem se transforma em componentes literários em Corpo de baile (1956), com base na noção de paisagem literária de Michel Collot e na fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty. O artigo problematiza o espaço e os corpos nas narrativas rosianas tomando como base as construções paisagísticas, que atuam como forças criadoras da perspectiva experiencial das personagens. Com efeito, o espaço e a paisagem no contexto dessa leitura são percebidos pelas personagens através dos órgãos sensoriais, que têm como mediador o corpo.
Neste trabalho, propomos discutir o realismo em Corpo de baile (1956), de Guimarães Rosa, tomando por referência o texto “O buriti entre homens ou o exílio da utopia”, publicado no livro A Metamorfose do Silêncio (1974) e o artigo “O Mundo em Perspectiva: Guimarães Rosa” (1963), de Luiz Costa Lima. O crítico traz à luz um estudo sobre “as dimensões do real” na obra do escritor mineiro e destaca que, em Guimarães Rosa, “o mundo se abre como problema” e por meio de um “leque de perspectivas”. Em nossa análise acerca do realismo rosiano, tomaremos como referência o texto “Realismo e literatura,” em que Costa Lima organiza uma teoria estrutural do discurso literário. Pretendemos nos apoiar na teoria por ele apresentada após a virada teórica da década de oitenta, em que propõe a ressignificação do conceito de mímesis. Com a revitalização da mímesis, inicia-se uma nova etapa da qual se originaram os livros Mímesis e modernidade: formas das sombras (1980), O controle do imaginário ─ razão e imaginação nos tempos modernos (1984), Sociedade e discurso ficcional (1986), Mímesis: desafio ao pensamento (2000), que utilizaremos como apoio teórico neste estudo.
Este artigo busca analisar as formas de tensões e distensões na relação significativa de aproximação e distanciamento entre o sertão e os gerais rosianos, a partir de Corpo de baile (1956). Nesse livro, composto por sete narrativas, o processo de elaboração do espaço ficcional surge de maneira difusa gerando especificidades que recolocam em discussão as representações do espaço que se estruturara por meio da impossibilidade de fixar limites entre eles. Discute-se o sertão como um sistema móvel, cenário central da obra rosiana, e seus desdobramentos em gerais e veredas, categorias fundamentais na construção da narrativa e nas delimitações das singularidades das personagens viajantes. Nos textos rosianos, a construção do espaço é colocada em constante processo de ressignificação e aparece como lugares que estão paradoxalmente dentro e fora do mapa. Com base nesta problematização, propõe-se investigar como se configuram as manifestações de semelhanças e diferenças nesses espaços polissêmicos.
As Primeiras estórias como atos genesíacos primordiais. O princípio do uno e do múltiplo
regendo a proliferação das estórias. Os quatro pilares fundamentais que sustentam a estrutura arquitetônica do livro: a catábase, o personagente, o psiquiartista e a alegria. O entrelaçamento destas noções e o seu desdobramento nas estórias. A estória medial – “O espelho” – e as duas estórias extremas – “As margens da alegria” e “Os cimos” – como o princípio ativo do livro a partir do qual as outras dezoito estórias seguem-se umas às outras num percurso progressivo de desvelamento e engrandecimento do homem. A seqüência das estórias e a sua orquestração conjunta na composição de um enredo harmônico. As correlações internas entre as estórias. O destino ascensional da alma e os ecos plotinianos na obra
rosiana.
Este artigo visa a discutir a recepção crítica de Corpo de baile, de Guimarães Rosa, à luz do conceito de experiência estética formulado por Jauss (1979). Com base na hermenêutica literária proposta pelo pensador alemão, pode-se interpretar Corpo de baile como exaltação à literatura e ao corpo da linguagem. É possível pensar o ciclo narrativo como ciclo poético, elaboração formal e crítica fundidos em único objeto estético, e, ao mesmo tempo, refletir sobre a dimensão estética do homem. Buscar a hermenêutica para compreender a obra literária conduz-nos a perceber distinções fundamentais, tais como entre livro e mundo, objeto interpretado e sujeito interpretante. Assim, para uma compreensão de Corpo de baile, é preciso minimizar as manifestações implícitas de Guimarães Rosa, a fim de superar uma estética centrada no autor. Pensando a experiência estética em Corpo de baile ? projeto literário múltiplo, cuja configuração temática e formal ainda se discute ? com fundamentação na tríade aishesis, poesis e katharsis, não se visa somente examinar a recepção crítica de Guimarães Rosa, mas, sobretudo, compreender como, no interior mesmo da obra, se coloca a questão da dimensão estética. Cet article vise à étudier la réception critique de Corpo de baile, de Guimarães Rosa, à partir du concept d?expérience esthétique formulé par Jauss (1979). En tenant compte l?herméneutique littéraire proposée par H. R. Jauss, on peut interpréter Corpo de baile comme une exaltation de la littérature et du corps du langage. Il est possible donc penser l?ensemble narratif en question comme cycle poétique, forme et critique integrées dans un seul object esthétique. Chercher l?herméneutique à fin de comprendre l?oeuvre litteraire nous amène à percevoir différences fondamentaux, comme entre livre et monde, objet interprété et sujet interprétant. Pour une compréhension de Corpo de baile, il faut minimiser les manifestations implicites de Rosa, à fin de surmonter une esthétique centrée sur l?a
Este artigo visa a discutir a recepção crítica de Corpo de Baile, de Guimarães Rosa, à luz do conceito de experiência estética formulado por Jauss (1979). Com base na hermenêutica literária proposta pelo pensador alemão, pode- se interpretar Corpo de Baile como a exaltação à literatura e ao corpo da linguagem. É possível pensar o ciclo narrativo como ciclo poético, elaboração formal e critica fundidos em um único objeto estético, e, ao mesmo tempo, refletir sobre a dimensão estética do homem. Buscar a hermenêutica para compreender a obra literária conduz-nos a perceber distinções fundamentais, tais como entre livro e mundo, objeto interpretado e sujeito interpretante. Assim, para uma compreensão de Corpo de Baile, é preciso minimizar as manifestações implícitas de Guimarães Rosa, a fim de superar uma estética centrada no autor. Pensando a experiência estética em Corpo de Baile– projeto literário múltiplo, cuja configuração temática e formal ainda se discute- com fundamentação na tríade aishesis, poesis e katharsis, não se visa somente examinar a recepção crítica de Guimarães Rosa, mas, sobretudo, se coloca a questão da dimensão estética.