Teorias críticas dos últimos anos contribuíram para o gradativo apagamento do interesse pelas pesquisas em fontes primárias, ao ser valorizado o texto na sua integridade estética, sem o interesse pelos bastidores da criação. É significativo o retorno da crítica em direção à figura do autor que, na pesquisa dos acervos, reaparece com seu traço e resíduo, sua marca autoral. Um esboço de biografia intelectual emana desses papéis, ao serem incorporados ao texto em processo. Os bastidores da criação, as experiências vividas pelos autores ligadas à produção literária e existencial, constituem lugares ainda desconhecidos pela crítica, e que deverão ser levados ao conhecimento público. A crítica genética, responsável pela elucidação da gênese da escrita, participa ainda do aparato biográfico, considerando ser importante processar o cotejo entre manuscrito e texto definitivo dos autores, ao lado da trajetória literária do escritor, sua relação com os instrumentos de escrita, assim como do lugar escolhido para exercer seu oficio.
O artigo a presenta exemplos da recepção da cultura alemã por João Guimarães Rosa, com base em declarações do escritor e documentos e anotações disponíveis no Instituto de Estudos Brasileiros (USP). Problematiza a postura assumida por Rosa diante da Alemanha, tendo em vista o fato biográfico de sua atuação como diplomata em Hamburgo, entre 1938 e 1942, e a clara remissão a esse fato em três contos publicados em Ave, palavra. As referências sempre elogiosas à cultura alemã e a parcimônia nas manifestações sobre o nazismo, por parte de Rosa, são curiosamente suspensas nos aqui chamados "contos ale mães" ("O mau humor de Wotan", "A senhora dos segredos" e "A velha"). Os textos são marcados pelo olhar crítico e a uto-reflexivo de um diplomata brasileiro e m Hamburgo, que nos três contos aparece como narrador-personagem. Destaca-se aí o problema da concessão de vistos de imigração pelo Estado brasileiro, capítulo delicado de nossa história, vivi do de perto pelo autor de Grande sertão: veredas.
O volume Ave, palavra, de João Guimarães Rosa, obra póstuma, publicada em 1970, transcreve 54 textos considerados pelo escritor uma "miscelânea", que reúne notas de viagem, diários, poemas, contos, crônicas, flagrantes, reportagens poéticas e meditações, tudo o que, aliado à variedade temática de alguns textos em verso e de feição filosófica, constituiu sua colaboração de vinte anos em jornais e revistas brasileiras. Objetiva-se estudar a crônica "O mau humor de Wotan" (1948), de Guimarães Rosa, tomando por base o referido livro de 1970, com enfoque no problema da classificação dos textos e no caráter de testemunho destes.
Este artigo tem como objetivo mostrar as relações que João Guimarães Rosa
travou com a família judaica de Israel Klabin. A partir das correspondências entre Rosa
e Klabin e de uma entrevista realizada por mim, intento demonstrar o filossemitismo
de Rosa. Além disso, com base em documentos, livros e pesquisas, discuto o
conhecimento e a atuação de Rosa na emissão de vistos para judeus durante seu
período na Embaixada Brasileira em Hamburgo.
Este ensaio discute a relação entre a crítica genética e a biografia, a partir do exame dos bastidores da criação, das experiências vividas pelos autores ligadas à produção literária e existencial. A intenção de reunir esses dois polos permite expandir o registro documental dos autores como tentativa de recuperar estágios pré-textuais e estágios pré-vivenciais.
Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFBA
O presente estudo comparado põe em diálogo as narrativas Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa e A Morte em Veneza de Thomas Mann, a partir das simbólicas travessias dos protagonistas Riobaldo e Aschenbach. As cenas de travessia sintetizam as experiências dramáticas dos protagonistas que aprendem acerca da existência marcada pelo paradoxo e instabilidade assustadora. Considera-se, inicialmente, o modo como cada um dos escritores teceu um imaginário acerca da cultura do outro e como esses trânsitos culturais encontram-se representados em suas literaturas. Partindo das cenas de travessia, destacam-se os aspectos épico-dramáticos em ambas as narrativas e os principais leitmotive e simbologias presentes nas cenas que se desdobram nas aprendizagens existenciais dos protagonistas. O trabalho discute como os dois escritores elaboram seus discursos sob o signo da limiaridade, relacionando as experiências de Riobaldo e Aschenbach com as atuais configurações do conceito de devir propostas por Gilles Deleuze e Félix Guattari.
Este trabalho tem como base analisar os contos de guerra, de Guimarães Rosa, presentes na obra "Ave, Palavra", e aprofundar o estudo nas questões do exílio sentido pelo autor durante o período em que trabalhou na Alemanha. A pesquisa tem como base as reflexões de exílio e de vida do autor Edward Said e seu distanciamento de sua cultura de origem para solidificar o argumento de que Rosa também se sentia estranho em seu "não-lugar".
Instituto de Letras e Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Letras
O volume Ave, palavra, de João Guimarães Rosa, obra póstuma, publicada em 1970, transcreve 54 textos considerados pelo escritor uma "miscelânea", que reúne notas de viagem, diários, poemas, contos, crônicas, flagrantes, reportagens poéticas e meditações, tudo o que, aliado à variedade temática de alguns textos em verso e de feição filosófica, constituiu sua colaboração de vinte anos em jornais e revistas brasileiras. Objetiva-se, nesta dissertação de Mestrado, estudar a crônica de João Guimarães Rosa, no período compreendido entre 1948-1961, tomando por base o referido livro de 1970, com enfoque no problema da classificação dos textos e no caráter de testemunho destes. Para esse estudo, selecionaram-se os seguintes textos: "O mau humor de Wotan" (29.02.1948 - Correio da Manhã); "A senhora dos segredos" (06.12.1952 - Correio da Manhã); "Homem, intentada viagem" (18.02.1961 - O Globo); "A velha" (03.06.1961 - O Globo). A leitura e interpretação das crônicas citadas seguem um viés histórico-cultural, no período correspondente à Segunda Guerra Mundial. Considerando os estudos de Massaud Moisés (1978), Afrânio Coutinho (1997) Antonio Candido (1997) e Jorge de Sá (2005), compreendeu-se que este gênero textual merece necessário estudo e avaliação. Fundamenta-se esta Dissertação nos estudos formulados por Hans Robert Jauss (1979), que focaliza a primazia da hermenêutica centrada no leitor, aclarando, de um lado, o processo atual que concretiza o efeito e o significado do texto para o leitor contemporâneo e, de outro, reconstrói o processo histórico pelo qual o texto é recebido e interpretado por leitores de tempos diversos.
A presente tese elege como corpora o romance Nada de novo no front (1929) de Erich Maria Remarque (1898-1970) e as crônicas “O mau humor de Wotan”, “A velha” e “A senhora dos segredos” presentes em Ave, palavra (1970) de Guimarães Rosa (1908-1967). Pensando-se no romance alemão, cuja temática gira em torno da Primeira Guerra Mundial e nos textos rosianos moldados pelo contexto da Segunda Guerra Mundial, propõe-se aplicar os teóricos Márcio Seligmann-Silva (1964) em O local da diferença (2005), Zygmunt Bauman (1925) em Modernidade e Holocausto (1998) e Hannah Arendt em (1906-1975) Eichmann em Jerusalém (1963) e Origens do Totalitarismo (1951) para se discutir o corpora em diferentes perspectivas sobre a guerra, visando a compreender como os textos literários podem contribuir ou até causar tensões para a teoria. A perspectiva central do trabalho será o manejo do corpora sob a teoria da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss (1921-1997) e da Hermenêutica definida por Benedito Nunes (1929-2011) em Hermenêutica e poesia (1999) bem como o diálogo do teórico alemão com seu mestre Hans Georg Gadamer (1900-2002) e Martin Heidegger (1889-1976), pensando na historicidade transcendental e na temporalidade do ser. Na ótica das teorias acerca da guerra o texto do teórico brasileiro assumirá dois momentos dentro do trabalho, sendo o primeiro de aplicação dos fundamentos psicanalíticos do trauma, choque, neurose de guerra, entre outros, enquanto que o segundo será de questionamento de O local da diferença sobre sua proposta da sobreposição do ético sobre o estético. Em relação ao sociólogo polonês além do manejo das obras literárias sob sua concepção, abordar-se-á como, por meio da estética de Nada de novo no front, já é possível se apontar elementos capazes de fazer com que o homem já se possa perguntar pela lição razão versus emoção que, para Bauman, é somente perceptível no Holocausto, porém, ao se aproximar Remarque e Guimarães, observar-se-á que, por meio de elementos estéticos, obviamente diferentes da sociologia, se pode inverter tal noção, ou seja, fica mais notória a relação razão versus emoção no romance alemão do que nas crônicas rosianas. Tratando da pensadora alemã examinar-se-á como a obra Nada de novo no front oferece imagens analisáveis pela teoria de Arendt, assim como também mostra personagens complexos que se deixam banalizar pelo mal, depois pensar e julgar por si mesmos, questionando o poder do Estado e, por último, se tornarem novamente indiferentes com o outro. Examinando-se o corpora segundo a concepção jaussiana e a Hermenêutica, levando-se em consideração as premissas teóricas acerca da guerra mostrar-se-á como o leitor atual pode ter uma experiência estética de prazer diante do terror infligido ao homem no século XX e como o contexto do Holocausto pode ser interpretado como uma violência mais branda do que se mostra na mídia e nas teorias acerca da guerra, já que o receptor terá um primeiro contato com a Primeira Guerra Mundial mediante o romance remarqueano.
A abordagem do trabalho será uma interpretação existencialista da crônica "O mau humor de Wotan" presente na obra Ave, palavra (1970) de João Guimarães Rosa (1908-1967). A análise existencialista será feita com base no livro o Ser e o nada (1943/2007), de Jean-Paul Sartre. Tratar-se, no texto, de abordar as condutas de má-fé [mauvaise foi] e de liberdade [liberté] do casal Hans-Helmut Heubel e Márion Madsen e do Narrador (Guimarães Rosa ficcionado) no contexto de guerra com base na analise desses personagens serão expostas as imagens literárias que clarificam as noções de má-fé e
liberdade na consciência, que é o conceito de homem do filosofo francês, embora, cada um dos personagens em questão tenha um diferente posicionamento sobre o nazismo, como Hans-Helmut, que representa o cidadão alemão que reconhece as atrocidades do nacional socialismo, mas não quer a derrota de seu país; Márion, que se dispõe a agir com prudência aderindo às normas do partido alemão e o Narrador que se coloca
Propõe-se, nesta comunicação, uma leitura da crônica "O mau humor de Wotan" (29.02.1948 — Correio da Manhã) do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, tendo por base o livro póstumo Ave, palavra de 1970. Por não ser muito conhecido, segue-se a amostra das primeiras impressões, que se obteve desse texto, considerando contexto histórico relacionado à Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de apresentá-lo ao público acadêmico. Fundamenta-se este trabalho nos estudos formulados por Hans
Robert Jauss (1979), que focaliza a primazia da hermenêutica centrada no leitor, aclarando, de um lado, o processo atual que concretiza o efeito e o significado do texto para o leitor contemporâneo e, de outro, reconstrói o processo histórico pelo qual o texto é recebido e interpretado por leitores de tempos diversos.
Busca-se em Erich Maria Remarque (1898-1970) em Nada de novo no front (1929)
e Guimarães Rosa (1908-1967) nas crônicas “O mau humor de Wotan”, “A velha” e “A senhora
dos segredos”, presentes em Ave, palavra (1970). Discutir os principais eventos de terror do
século XX (as duas Guerras mundiais e o Holocausto) sob a noção de tradução benjaminiana
abordada por Marcio Seligmann-Silva. Nesta perspectiva as Literaturas elegidas conduzem para
uma leitura que pode dar voz aos que sofreram as imposições e violências, proporcionados pelos
regimes autoritários e guerras. No entanto, pela via da experiência estética jaussiana o leitor não
se encontra submisso, a experimentar as obras literárias citadas, sob a batuta da tradução das
realidades caóticas representadas por Guimarães Rosa e Remarque, sendo conduzido
necessariamente pela identificação com os que foram vitimas da agressão. É fundamental
compreender como os textos literários em questão traduzem a realidade totalitária de conflitos
do século passado não como meras representações, mas, como reflexo das fraturas da realidade
vigente em questão (imposição ideológica, violência, autoritarismo, etc.) e que há na
experiência estética a possibilidade de prazer mesmo mediante estas condições.
Este trabalho pretende examinar três contos de Guimarães Rosa, "O mau humor de Wotan", "A senhora dos segredos" e "A velha", utilizando a categoria do testemunho. O contexto do nazismo é relacionado com o comportamento de personagens femininas.
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