ISSN 2359-5191

22/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 24 - Sociedade - Instituto de Química
Instituto de Química ajuda a preservar obras de arte
Grupo interdisciplinar realiza diagnósticos antes de sinais de degradação.

São Paulo (AUN - USP) - É melhor prevenir do que remediar – é este o princípio que os pesquisadores do Instituto de Química da USP (IQ – USP) Dalva Lúcia de Faria, Andrea Cavicchioli e Carlos Antonio Neves buscam aplicar à conservação de patrimônio cultural.

A colaboração entre cientistas e restauradores não é novidade. Em grandes museus, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, desde o início do século passado já se realizam pesquisas científicas que dão apoio ao trabalho de restauração, fornecendo informações como, por exemplo, os tipos de pigmentos usado em determinada obra ou os materiais preferidos por cada artista. Mas a natureza do trabalho do restaurador consiste em intervir diretamente nas obras para reverter efeitos visíveis de seu envelhecimento, o que ocorre apenas em situações críticas. Mais recentemente, especialmente nos grandes centros onde é tradicional a preocupação com a conservação de bens culturais, surgiu um novo tipo de interação deste campo com a ciência, com o objetivo de prever e limitar o processo de degradação.

Mesmo que a degradação dos materiais seja um processo natural e inevitável – Cavicchioli explica que os materiais orgânicos já surgem, “potencialmente, com os dias contados”, pois são lentamente “queimados” pelo oxigênio do ar, reação na qual a luz tem efeito iniciador -, a conservação preventiva pode ser feita através do conhecimento dos mecanismos de degradação, da investigação das interações dos materiais entre si e com o ambiente e da criação de condições mais favoráveis à preservação: um planejamento arquitetônico que controle adequadamente a incidência de luz, a temperatura e o fluxo e visitantes, por exemplo, é uma medida que pode ser tomada com base no conhecimento da química dos materiais e contribuir para a preservação das obras sem interferir diretamente sobre elas.

Ao papel dos fatores ambientais sobre o envelhecimento dos materiais se soma ainda o problema da deterioração da qualidade do ar nos grandes centros urbanos, onde se localiza a maioria dos grandes museus e acervos de arte. Os poluentes atmosféricos mais comuns, ozônio, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre, constituintes do smog fotoquímico, têm ação oxidante, podendo acelerar a degradação dos materiais. Já foram feitos estudos no exterior acerca da quantidade de poluentes dentro dos museus e seus efeitos, mas é necessário realizar uma pesquisa específica para o Brasil, onde as condições são diferentes. O clima tropical, além de mais úmido, ensolarado e quente, ocasiona também diferentes condições nos museus, que costumam ser mais abertos e com maior fluxo e menos filtragem de ar.

O método de trabalho do grupo é interdisciplinar, reunindo diferentes áreas do Instituto – físico-química e química analítica – assim como pesquisadores de diferentes especialidades. O Laboratório de Espectroscopia Molecular (LEM), do qual a professora Dalva faz parte, está equipado para realizar diagnósticos, ou seja, detectar e descrever os processos de degradação antes que eles sejam visíveis. As técnicas de que o laboratório dispõe possibilitam identificar as características moleculares das substâncias, bem como alterações que se dêem em sua estrutura, sem causar danos à obra. Associam-se à espectroscopia técnicas eletroquímicas que respondem ao envelhecimento dos materiais, permitindo a construção de sensores, pequenos equipamentos que, cobertos por uma fina camada do material a ser analisado e expostos ao ambiente do museu, informam aos pesquisadores a velocidade de modificação do material. Tais sensores estão sendo atualmente testados no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, para análise de materiais de particular interesse do museu. O comportamento dos materiais será observado durante um ano, e então os resultados serão combinados à espectroscopia, para obtenção de informações mais detalhadas. Também já se estabeleceu colaboração entre o grupo de pesquisa e o Metropolitan Museum of Art, conhecido como Met, também em Nova York, e com restauradores do Museu Paulista, que procurou o Laboratório de Espectroscopia Molecular para identificar pigmentos utilizados por Benedito Calixto, para auxiliar a restauração de algumas de suas obras.

Para os pesquisadores, a maior dificuldade para a ampliação da interação entre os museus brasileiros, que não costumam ter equipes próprias de cientistas, e a universidade é o alto custo dos processos de manutenção. Mas a importância da junção das duas áreas está crescendo, como demonstra um projeto financiado pela União Européia, com o qual a professora Dalva também está envolvida, que busca elaborar um currículo para formação do profissional da ciência em conservação, um cientista - químico, físico ou biólogo - com conhecimentos aprofundados na área de humanas e história da arte.

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