ISSN 2359-5191

22/12/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 24 - Educação - Instituto de Psicologia
Jogos orientam jovem na escolha profissional
Encontros promovidos por psicóloga ajudam na reflexão sobre as possibilidades de definição da carreira.

São Paulo (AUN - USP) - Em tese de doutorado que será defendida no IP (Instituto de Psicologia) da USP, a psicóloga Christiane Camps analisa o momento da escolha profissional na vida dos adolescentes. Desenvolvida no Departamento de Psicologia Clínica, a pesquisa é feita através de encontros com jovens, onde são realizadas atividades lúdicas e descontraídas, para evidenciar suas potencialidades pessoais, capacidades existentes e também aquelas por desenvolver.

Os estudos, além de tentarem desvendar medos e inseguranças na hora da escolha profissional, também ajudam estes jovens a amadurecer, identificar interesses e possibilidades de carreira, e refletir sobre escolhas – sempre levando em conta a realidade do mundo que os cerca.

Teatro espontâneo

Segundo Christiane, suas pesquisas atuais são uma continuação de sua tese de mestrado (defendida no ano passado), em que foi trabalhada uma proposta de atendimento clínico em ambiente escolar direcionado a adolescentes. Eram realizados encontros com jovens de 12 a 17 anos, dentro da escola, propondo sempre atividades lúdicas variadas e o teatro da espontaneidade. Nestas “sessões”, eram criadas diversas peças, abordando temas como drogas, violência, relações amorosas, nascimento e morte. “Os jovens eram convidados a participar, mas estavam livres para permanecer ou não na sala. E jamais alguém saiu no meio de uma atividade. Conforme fui ficando conhecida, e em função de uma demanda que vinha dos próprios alunos, passamos a nos encontrar após o horário das aulas. O teatro da espontaneidade foi, aos poucos, se configurando como atividade dos jovens”, conta a pesquisadora.

Desta mesma maneira, nos estudos sobre a escolha profissional, as oficinas de teatro espontâneo também são vastamente utilizada, explorando ao máximo o universo e o imaginário dos adolescentes, para buscar um “fazer” criativo em sintonia com o próprio ser, para resgatar o “espontâneo” e encontrar uma existência pessoal mais autêntica.

Nestes encontros, Christiane costuma levar uma mala (que já era usada antes, em seus estudos anteriores) contendo objetos variados que podem ser utilizados na criação dos personagens. Os jovens podem encontrar véus, perucas, luvas, óculos, chapéus, lençóis, xales, cintos, saias etc. “A mala foi um sucesso. Os adolescentes, cada um ao seu modo, aproximavam-se dela, exploravam seus objetos, experimentavam e criavam. E, naturalmente, acabava surgindo uma dramatização”.

Durante as oficinas já realizadas, casamentos e mortes foram os temas mais explorados pelos jovens nas dramatizações. Como não existe tema definido no teatro espontâneo – e o drama vai surgindo e sendo construído através da participação espontânea – casamento e morte estão, aparentemente, muito presentes no imaginário destes adolescentes. Novas relações amorosas, compromissos e perdas podem estar associados a medos e angústias profundas. “Nos encontros, os jovens puderam experimentar diversos papéis, diferentes formas de ‘ser’. Foi possível uma aproximação com temas e questões que assustam, apropriando, desta forma, incertezas e dramas, para vive-los de forma suportável, sem a perda de si mesmo”, explica Christiane.

Ser e agir

O método psicanalítico adotado nos estudos segue os preceitos de Donald W. Winnicott, segundo os quais, considera-se que toda conduta humana, por mais estranha que seja, tem um significado e um sentido. Busca-se, assim, o favorecimento de um movimento autêntico de cada jovem, manifestações singulares de cada um e diferentes formas de ser e agir. “Trata-se de uma psicanálise inovadora, que, pautada na relação inter-humana e recorrendo a diferentes estratégias clínicas, dá contornos aceitáveis para as angústias e incentiva a capacidade criativa do ser humano”, diz.

Em seu trabalho com orientação profissional, Christiane tenta sempre incentivar nos jovens uma apropriação pessoal das experiências vividas nos encontros e no dia-a-dia em geral, instigando o gesto espontâneo e o “fazer” integrado, criativo e em sintonia com o ser. “Hoje em dia, os adolescentes andam entulhados de informações, tudo acontece de modo muito dinâmico, e parece que a escolha profissional tornou-se ainda mais difícil, levando os jovens a fazer escolhas que não estão em sintonia com eles mesmos”.

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